quinta-feira, 22 de abril de 2010

Não tenho tempo

Não há tempo
Não existe tempo
Estou sempre indo...

E vindo...

Correndo atrás...
Do meu medo
Do que fazer
Do que ter
Pra não pensar
Pra não olhar o coração...vazio.

Corro as pressas
Atrás do carro
Da casa
Do que comer
Dos filhos
E nunca sei onde eles estão

Não tenho tempo
Nem descanso

Não vejo o céu
De que cor é ele mesmo?
E o sol?
As paisagens das nuvens?
O luar?
Como ele é?

Quais são os brinquedos das crianças?
De que eles gostam?

Não tenho tempo de olhar
Meu olhar partiu um dia
Não sei pra onde se foi
Evaporou-se no cotidiano
Corriqueiro de meu todo dia

Nem vejo o dia passar
Apenas sei que é noite
Porque tenho que a porta trancar
Acender as luzes
E me deitar

Não vi nada
Não senti nada
O dia passou
A vida passou
E eu...
Não vi a vida passar

E ela passou...
Não tive tempo

Não tive tempo de sair
Andar, viajar
A correria do dia não deixou
Não deu pra sorrir
A não ser das poucas coisas
Dos amigos do trabalho

Mas não deu tempo de ver seus olhos
O brilho de luz que tinham na alma

Não peguei na terra
Não sujei as mãos
Nem plantei uma árvore

Não experimentei algodão doce
Nem comida vegetariana
Não fiz meditação
Nem dancei as lindas canções que queria dançar

Não cantei
E muito pouco amei

Não tive tempo
A vida sempre por um triz

Não havia tempo
Não houve tempo
Não haverá tempo

E no entanto...

Tanto tempo há
Eu é que não vi

A vida passar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

PRATICANDO A MEDITAÇÃO

Muitas pessoas gostariam de praticar meditação mas não sabem por onde começar. Ouviram falar por exemplo que a prática desta atividade faz muito bem ao espírito e a vida pessoal, que traz tranqüilidade, autoconhecimento e saúde psíquica. Ficam se imaginando meditando, tornando-se mais espirituais, mais tranqüilos, melhores.

Mas ai vem uma pergunta: como meditar? o que fazer para colocar o pé na estrada e praticar? Será que é apenas ficar sentado em posição igual a que o mestre iluminado Buda ficava, - conhecida como posição de lótus - fechar os olhos e pronto? Só isto?

Pensando assim, ficamos a nos imaginar sentados de olhos fechados sem fazer nada, como se estivéssemos perdendo tempo –e tempo é dinheiro – e logo desistimos cansados desta imagem que não nos agrada.

Na verdade a meditação é a arte/ciência de buscar o silêncio interior. E para encontrar este silêncio pode-se e deve-se utilizar várias técnicas que foram criadas ao longo dos milênios, principalmente pelo povo oriental. Estas técnicas variaram muito ao longo dos tempos. Os yogues, os sufis, os zen budistas e vários mestres orientais como Buda, paramahansa Yogananda, Osho, etc, criaram muitas técnicas, para auxiliar as pessoas a se encontrarem através desta prática.

Portanto, a primeira coisa que se tem que saber é que ficar sentado em posição de lotus - a posição do Buda – é apenas uma das muitas centenas de técnicas de fazer meditação e segundo alguns, das mais difíceis.

Encontrar o silêncio interior requer prática e compromisso. Requer coragem para se auto-conhecer. Coragem porque pode ser encontrado muitas coisas bem no fundo de si mesmo que não gostaria ou que nem imaginava que estivesse ali, bem no inconsciente.

A prática inicial do meditador é o testemunhar. Qualquer tipo de técnica que você utilizar, utilize-a para ser um observador de si mesmo. Se a técnica que for usada for a de sentar-se na posição de lótus, sente-se e tente observar o pensamento, o que ocorre com ele, para onde ele vai, quais os pensamentos que vem a sua mente, etc. O importante é você conseguir ser uma testemunha de si mesmo, não se identificar com o próprio pensamento, deixá-lo vir e deixá-lo passar, ser testemunho consciente deste tráfego ininterrupto que é o nosso pensamento.

Pratique isto de início e você começará a sentir que aquela imagem que fazia do ato de meditar começará a mudar, começará a perceber sentido neste ato, e mais ainda, começará a perceber que você pode ser o senhor de seus pensamentos, senhor de seus atos e não mero joguete que vaga ao sabor de suas emoções, de seus pensamentos, de seus humores e passará a ter mais controle sobre si mesmo.

Comece por este caminho e você verá porque a meditação é hoje tão necessária para se ter uma vida mais equilibrada e feliz.

domingo, 4 de abril de 2010

A ERA DO PRAGMATISMO

Esta é a Era do pragmatismo. A Era da ação prática, qualquer que seja ela para se atingir os fins desejados. O que importa é viver o agora sem medir as conseqüências, sem sonhar ou ter projetos que visem o bem comum.
O importante é o ter agora, consumir o máximo possível, aproveitar, gozar a vida segundo certos padrões duvidosos espalhados a três por quatro pelos meios de comunicação. O importante é comer muito, é vestir o mais diferente e caro possível, é transar com mil homens ou mil mulheres e em situações as mais exóticas possíveis, é ter mansões e sonhar com o carro mais caro possível.
Não importa o outro! O que tenho eu haver com o outro? Cada qual vivendo sua vida como deve ser. Não me importa se o outro sente dor na alma ou no corpo, não me importa o outro, o que importa sou eu, esta ilha cercada de gente distante de mim por todos os lados. Todos são desconhecidos e meus concorrentes. Concorrem e querem meu emprego e minha mulher, o meu dinheiro e minha casa, o meu carro e até minha alegria. Tenho que viver em uma redoma de vidro para me proteger dos outros, meus dessemelhantes.
Esta é uma Era sem sonhos e sem esperanças, o fim de um paradigma, a morte de Shiva. Nas escolas nas ruas, nos campos, em todas as partes é o pragmatismo que domina, é a ação animal, desprovida de objetivos que não sejam eu próprio. A idéia neoliberal, a concorrência absoluta tomou conta de nossas mentes. O ideal é concorrer, é ver quem pode mais, é ver quem vai mais longe, é ver quem consegue mais. E diz-se que a competição, a concorrência faz parte da natureza do ser humano, como se alguém pudesse definir o humano, como se alguém pudesse dizer este é o ser humano.
Não, na verdade o ser humano é um eterno vir-a-ser, é um eterno projeto se autoconstruindo, mudando, transformando a si mesmo em seu processo de construção da vida. Já mudamos muito, experimentamos muito no correr de nossa história e continuamos experimentando. Este momento é apenas uma passagem, um momento nosso, um erro do qual devemos tirar aprendizados para não repeti-los no futuro, assim com tanto já erramos no passado.
Um dia, quando acordarmos, vamos ver que estávamos no caminho errado, que não somos uma ilha, mas sim uma rede de relações que se interconectam como se interconectam os fios invisíveis da Internet, vamos ver que somos dependentes uns dos outros, que fazemos parte de um mesmo universo de colaborações mútuas. Vamos perceber que não podemos viver sozinhos, que os animais, os vegetais e os minerais são parte de nossa estrutura físico-molecular e que neles estão contidos os mistérios necessários a nossa saúde psíquica e física e vamos perceber que a vida é constante transformação e que a nós foi dado o dom de perceber essas transformações. Há que chegar o momento de percebermos que nós temos o privilégio de ser o elo de ligação entre as coisas do céu e da terra, que a nós foi dado raízes e asas, e que nos cabe cuidar amorosamente desse pequeno pedaço de terra que gira infinitamente no espaço sideral.
Um dia nós vamos acordar. Eu sei disso. Você sabe disso. Muitos já sabemos disso.
Por que não abrir os olhos?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A inteligência e as outras dimensões do humano

Somos tão inteligentes, tão dinâmicos, tão espertos... e no entanto, não conseguimos ver a destruição que ocorre em todos os pontos do planeta e bem ao nosso redor. E não conseguimos perceber que essa destruição afeta a nossa vida. E não conseguimos entender que a nossa vida é apenas um projeto de outros que organizam a nossa vida.

É bom sabermos que a inteligência é um dom muito louvável no ser humano, mas é bom sabermos também que é apenas uma dimensão da nossa existência, não a única e talvez nem a mais importante. Outras dimensões fazem parte de nosso ser: os sentimentos, a sensibilidade, a intuição, o inconcebível. Estas talvez sejam partes bem superiores no ser humano. Seguramente são bem mais antigas. E são estas outras dimensões, que nos tornaram humanos, segundo a biologia do amor de Maturana e Varela, que foram “esquecidas”, sublimadas, em função desta nova capacidade surgida a tão pouco tempo no ser humano, entre 100 e 600 mil anos atrás, e que tanta falta faz a nossa civilização.

São estas outras dimensões que são responsáveis pelo afeto, pelo respeito, pela ética, pelo carinho, pelo cuidado para com o outro, pelo amor, pelo nosso deslumbramento diante deste tão maravilhoso mundo. São estas dimensões que nos permitem amar, querer nossos filhos, sentir o desejo de brincar com nossos filhos, construir belos rituais para louvar o desconhecido.

São também responsáveis pela beleza da solidariedade frente às vicissitudes alheias e são elas que nos permitem viver uma vida prazerosa e bela. Segundo o biólogo Humberto Maturana, o processo de hominização ocorrido com o antropóide deu-se exatamente em função da capacidade deste de compartilhar e amar os seus e a seus filhotes como nenhuma outra espécie de antropóide existente o fez. Foi o processo de compartilhar, cuidar e amar que deu espaço para o desenvolvimento da inteligência no ser humano.

Então por que nossas escolas são voltadas apenas para a dimensão do mental, a dimensão invasiva, fria, calculista, exata?

Provamos no decorrer destes milhares de anos que esta dimensão humana sozinha não é capaz de nos trazer paz e alegria. Provamos que atribuir a responsabilidade de nossa vida e desenvolvimento apenas a dimensão da inteligência é catastrófico para a vida humana a nível individual, coletiva e para todas as espécies vivas do planeta.

Se olharmos para o que construímos com nossa capacidade mental, sem dúvida veremos maravilhas: desvendamos a estrutura do átomo; fomos ao espaço; descobrimos a lógica do funcionamento do corpo humano; desvendamos certas leis da natureza que nos permitiu multiplicar por milhares de vezes a produção agrícola, etc; construímos lindas habitações individuais e coletivas; desenvolvemos belíssimos instrumentos musicais e criamos a fantástica arte do cinema, etc; mas fomos incapazes de parar de gerar dor, morte e destruição provenientes de nossos próprios atos políticos. Tornamo-nos cada vez mais incapazes de frear a máquina de guerra destruidora que nosso gênio mental inventou e perdemos a capacidade de amar, respeitar o próximo, termos sentimentos profundos e nos tornamos cada vez mais fúteis e insensíveis ao sofrimento do outro. Nossa comunidade não é mais uma comunidade pois não conhecemos nosso vizinho. O amor tornou-se uma mercadoria e o sonho, a intuição, o deslumbramento com o mundo que nos rodeia foi dando lugar à preocupação exacerbada para com o dia de amanhã.

Um ser frio, calculista e individualista nasceu a partir da predominância da mente sobre as outras dimensões que compõe o humano. Por que nas escolas, além do ensino da utilização da mente não se fala da beleza, da gentileza, da leveza da poesia, da sensibilidade, do deslumbramento frente ao insondável e maravilhoso mistério da vida? Por que não se ensina a amizade, o companheirismo, a solidariedade, a alegria de se estar vivo junto com o outro e por isto mesmo com possibilidade de desfrutar a vida?
Será que a única resposta que temos para esta questão é que pelo desuso perdemos estas outras dimensões que compõe o que chamamos de humano?