terça-feira, 30 de novembro de 2010

A cidade, nossa criação

“Que homem é o homem que não torna melhor o lugar onde mora?”
Com essa pergunta, Balian, traduz sua perplexidade diante daqueles que nada fazem pelo lugar onde moram.
E esta é a nossa perplexidade também. Seabra, pequena cidade da bela Chapada Diamantina, Bahia, se torna dia após dia, um lugar pior para se viver. Ruas esburacadas e sem arborização, praças quebradas e sem jardins, rios sujos e degradados e lixo jogado nos mais variados cantos da cidade.
O que estamos construindo para nós? Queremos ratos, baratas, pernilongos e outros insetos nocivos co-habitando em um mesmo espaço conosco?
Por que não considerar a cidade como a própria extensão de nossas casas? Nosso quintal? Nosso jardim?
Por que se isolar atrás de quatro grandes muros quando podemos ter todo um espaço exterior onde podemos partilhar com outros as belezas do lugar onde vivemos?
A riqueza do lugar onde habitamos não está nos grandes prédios que podemos construir ou na quantidade de carros e casarões que uma cidade possa possuir. Não, esta riqueza se encontra na qualidade de nossas ruas e praças, na qualidade do ar que respiramos ou da água que bebemos, na qualidade dos lugares aprazíveis que construímos ou se encontra no sentimento de pertencimento ao lugar que pouco a pouco vamos criando.
Uma cidade, como uma casa, é um ato de criação, um ato, portanto, divino, pois é divina nossa capacidade de criar e transformar o ambiente onde vivemos. E como toda criação, a cidade é reflexo daqueles que a habitam. E aqueles que a habitam mostram, através de sua criação a sua relação com o que é divino.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nossos filhos

Quando olho meus filhos dormindo, brincando ou simplesmente sendo, sinto uma enorme esperança brotar dentro de mim.
Aposto neles, e no que faço por eles, que o dia de amanhã será melhor. Aposto neles, que serão adultos cidadãos, que criarão e darão sua parcela de contribuição para termos uma sociedade melhor.
Digo que continuarão sendo curiosos e corajosos; Terão amigos e solidão; viajarão muito em busca daquilo que para eles será fundamental; questionarão sempre e não se contentarão com respostas simplistas ou simplórias. Estarão de prontidão em busca do que é essencial e gostarão da boa música e de todas as formas de arte e principalmente a literária.
Serão bons amigos e primarão pela alegria de viver porque estão aprendendo que a felicidade é um direito dos vivos e a trarão bem enraizada no coração.
Respeitarão o silêncio porque saberão que só se obtém respostas às questões fundamentais através do contato com o profundo silêncio interior. Saberão também viver aquilo que dói porque a dor é da condição humana e é inevitável experimentá-la, porque o discernimento entre o bem e o mal é também fruto da vivência e compreensão acerca da dor pelas quais passamos.
A vida será olhada por eles como um milagre, um milagre e uma viagem, uma experiência de crescimento espiritual. Portanto, olharão os erros sem sentimentos de culpa, mas como fruto da inexperiência e perceberão seu próprio florescimento com humildade, gratidão e verdade.
Respeitarão a si próprios e aos outros e indignar-se-ão frente a estupidez humana que promove guerras e infelicidades em vez do perdão. Olharão de cima da montanha os vales profundos da alma e de dentro dos vales, enxergarão os picos luminosos do espírito.
Quando vejo meus filhos, a esperança em um mundo melhor cresce dentro de mim; quando vejo tantas crianças luminosas, com seus sorrisos puros e curiosos, amigos e humildes, tenho certeza de nossa imensa e bela responsabilidade como pais, como educadores, como amigos e irmãos, co-criadores de um mundo cada vez mais lindo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Qual é a sua religião?

Qual a sua religião, professor? Por vezes me perguntam os alunos.
Uma pergunta como essa, embora feita de maneira direta, não pode ser respondida assim de chofre. É preciso que a resposta se estenda um pouco mais.
Em primeiro lugar, contraponho a pergunta com uma outra: como exercemos nossa religiosidade?
É sabido, que todas as grandes tradições tratam a prática da religiosidade dentro da ótica da amizade, da cooperação, da pureza de intenções, do respeito ao outro ser e consigo mesmo, dentro de uma cosmovisão de paz e fraternidade.
Em segundo lugar, respondo que minha religião é a do ser, é a profundidade com que trato a mim e as coisas que existem em meu entorno. É a minha relação de reverência para com os mistérios da vida que não me cabe saber. É o respeito, crescente para com as crianças, para com os animais, para com os vegetais e para com todas as outras formas de vida que existem no planeta, já que minha convicção religiosa diz que fazemos parte de uma teia de relações onde nenhum ser é superior ao outro e todos nutrem-se, de uma forma ou de outra, de todos. E onde o ser humano, com sua enorme capacidade de refletir sobre si próprio, tem por obrigação, zelar pela manutenção e equilíbrio desta rede de vida que se interdepende.
É uma religião diferente daquelas cuja obrigação dos fiéis é apenas freqüentar em dias marcados o seu culto para logo depois, ao sair de seu templo de meditação, afogar-se novamente em más ações, em desrespeito para com o próximo e para com todos os outros viventes que compõe a cadeia de vida do planeta.
A religião na qual acredito, é aquela cuja responsabilidade pelos meus atos não podem ser depositadas nas pedras das igrejas ou no colo dos sacerdotes ou nos ombros de Deus. A responsabilidade total de meus atos recai sobre mim, sobre minha vida, sobre a vida de todos os meus semelhantes e dessemelhantes. É uma religião onde não há culpa, nem pecado, mas sim ignorância, erro, experiência, que precisa ser o tempo todo pensada e repensada e principalmente possui como lema a humildade e possui profunda esperança em uma vida cada vez mais plena.
É uma religião que não possui dogmas, mas fé, e busca constante consciência alerta. E talvez por isso, nem mesmo possa ser chamada de religião, mas de religiosidade.