Normalmente temos medo de estar sozinhos, em silêncio, contemplando nossa interioridade. O que há lá dentro? Qual a extensão dessa interioridade, desse vazio?
Temos medo de descobrir o fabuloso mundo onde o prazer reside em se contemplar o vazio, em se deleitar com a própria essência do ser.
Vivemos como se existíssemos apenas para o mundo do trabalho, para o mundo social, esforçando-nos para aparecer melhor diante do outro. Estamos 24 horas nos relacionando com o outro - inclusive nos sonhos - direcionando nossa energia para a mente a fim de resolvermos os milhares de problemas que nos mesmos criamos.
“Nunca tenha um gato”, disse o mestre ao seu discípulo em seu leito de morte.
Uma pessoa que não possui centramento faz daquilo que possui, mesmo que seja um simples gato, não um prazer, mas um problema para poder manter a mente continuamente ocupada.
Preocupação é uma característica do ser humano moderno. Fazer; estar ocupado; não ter tempo; são palavras-chave para quem quer entender o ser humano moderno. E todos os que se recusam a acompanhar o ritmo frenético deste mundo são chamados de preguiçosos. Não ter tempo para si, não parar um pouquinho para dirigir-se para dentro é um estado muito apreciado hoje e significa estar muito bem; bem de acordo com o padrão ditado pelo conceito de bem-estar moderno. Assim mostra-se que se é uma pessoa muito requisitada.
O que existe por traz do ser humano social? O que acontece quando o sentar silencioso transforma-se em meditação? Um mundo novo se abre, o futuro deixa de preocupar e o passado deixa de existir e as questões do hoje, do agora, são o nosso único foco de atenção.
Temos medo do futuro. Temos medo do que virá. Exatamente igual ao ser humano primitivo que tinha medo das forças da natureza. Não temos confiança naquilo que desenvolvemos hoje, ainda não compreendemos que o futuro é fruto de nossa ação agora. O medo do futuro nos atormenta e isso afeta nossas relações sociais, afinal, o outro é meu concorrente e eu preciso estar sempre um passo a sua frente.
Dentro de uma roupa elegante, debaixo de um chapéu bonito, atrás de um óculos escuro e moderno pode existir um ser humano completamente desconhecido de si mesmo, um ser humano que nunca se tocou com profundidade, um ser humano que nunca ouviu seu próprio coração e nunca se permitiu admirar a própria desconhecida presença. O ser humano “irreal” precisa tocar a própria realidade e chorar de alegria por isso. .
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O tempo passa e o ser humano continua amo e senhor da arte do mimetismo, da camuflagem e da escamoteação. Antigamente, quando só nos era dado pensar (e a manifestação do pensamento poderia ser enquadrada na lei de segurança nacional), dizia-se que a ditadura é que era a responsável pelo atraso. Depois veio a fase de reorganização nacional e como sabemos, arrumar a casa é uma tarefa braçal e também não há possibilidades de empreender uma busca ao verdadeiro ser humano. Agora que praticamente tudo é possível, a agenda cheia é a suprema divindade e também fator inviabilizante dessa busca. E assim vamos nos habituando, nos conformando a ser cidadãos de segunda categoria, sem vínculo nem compromisso com o que há de vir.
ResponderExcluirO bom é que ainda nos resta contemplar ao longe esse mar de possibilidades e a capacidade de produzir vibrações no sentido evolutivo da raça, que ainda é fator inalienável de cada um de nós.
Um abraço do Fernando