Nos dicionários encontramos a palavra indigência significando pobreza, carência, falta do mínimo necessário à sobrevivência, sempre numa referência a não satisfação das necessidades básicas do corpo. No entanto, a pergunta acima, me leva a uma reflexão que vai além destas afirmativas dicionárias. A indigência de que o homem padece hoje e talvez sempre tenha padecido é também de cunho emocional/espiritual, é indigência de si mesmo, de carinho e de compaixão para consigo mesmo. É a indigência dos tempos míticos desde nossa expulsão do paraíso.
Em minha visão, no entanto, nós nunca estivemos tão próximos como agora, de uma mudança mais radical do que a que se avizinha, como uma possível volta ao reino paradisíaco perdido.
Sabemos que, tecnicamente, a fome não é mais compatível com o mundo contemporâneo e que a produção de alimentos mundial é mais que suficiente para matar a fome de todos os habitantes de nosso planeta. Então, por que ainda existir este flagelo que mata milhões de pessoas? Por que nós, agora imbuídos de conhecimentos científicos, não resolvemos muitos dos problemas com soluções óbvias, que afligem a humanidade como um todo, inclusive pondo em perigo a própria sobrevivência do planeta?
A resposta é clara. Ela está na necessidade urgente de uma mudança comportamental do ser humano. Uma mudança nos nossos valores, nos nossos hábitos, na nossa capacidade de “enxergar” o mundo como uma entidade viva da qual fazemos parte apenas como uma teia de infinitas relações de interdependência e que ao quebrarmos esta teia, afetamos todo este equilíbrio vivo. Ou seja, estamos agindo de forma tal que desequilibramos a rede da vida pondo em perigo toda a terra.
Uma mudança de valores portanto se faz necessário. Uma mudança espiritual se faz urgente.
E aí entra a importância da poesia nestes tempos de indigência pelos quais passamos, porque é palavra transformada em emoção, em experiência existencial/estética. Uma frase bem escrita, uma reflexão transparente e aberta nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos a partir de nossa própria vivência. Olhar o mundo com emoção, emocionar-se com um pôr-do-sol ou um nascer-do-sol, com um olhar de uma criança, com o desabrochar de uma rosa é poesia. Perceber a vida como uma cadeia de aconteceres e imaginar-se nesta cadeia, como parte integrante da dança do universo é poesia também. Olhar para o interior de nós mesmos e percebermos a mágica composição de nossa constituição é a poesia da vida. Poder olhar a vida e estaziar-se com sua elegância e beleza é impossibilitar-nos agir contrariamente as leis naturais e mudarmos nossos comportamentos agressivos, anti-sociais e antiéticos. Olhar a vida, portanto, como o poeta olha a palavra, é condição fundamental para que transformemos este planeta num lugar mais habitável, mais humano e mais bonito de se viver. A poesia na verdade, é a nossa essência, é o que unifica todos os povos, nosso bem comum.
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