Somos tão inteligentes, tão dinâmicos, tão espertos... e no entanto, não conseguimos ver a destruição que ocorre em todos os pontos do planeta e bem ao nosso redor. E não conseguimos perceber que essa destruição afeta a nossa vida. E não conseguimos entender que a nossa vida é apenas um projeto de outros que organizam a nossa vida.
É bom sabermos que a inteligência é um dom muito louvável no ser humano, mas é bom sabermos também que é apenas uma dimensão da nossa existência, não a única e talvez nem a mais importante. Outras dimensões fazem parte de nosso ser: os sentimentos, a sensibilidade, a intuição, o inconcebível. Estas talvez sejam partes bem superiores no ser humano. Seguramente são bem mais antigas. E são estas outras dimensões, que nos tornaram humanos, segundo a biologia do amor de Maturana e Varela, que foram “esquecidas”, sublimadas, em função desta nova capacidade surgida a tão pouco tempo no ser humano, entre 100 e 600 mil anos atrás, e que tanta falta faz a nossa civilização.
São estas outras dimensões que são responsáveis pelo afeto, pelo respeito, pela ética, pelo carinho, pelo cuidado para com o outro, pelo amor, pelo nosso deslumbramento diante deste tão maravilhoso mundo. São estas dimensões que nos permitem amar, querer nossos filhos, sentir o desejo de brincar com nossos filhos, construir belos rituais para louvar o desconhecido.
São também responsáveis pela beleza da solidariedade frente às vicissitudes alheias e são elas que nos permitem viver uma vida prazerosa e bela. Segundo o biólogo Humberto Maturana, o processo de hominização ocorrido com o antropóide deu-se exatamente em função da capacidade deste de compartilhar e amar os seus e a seus filhotes como nenhuma outra espécie de antropóide existente o fez. Foi o processo de compartilhar, cuidar e amar que deu espaço para o desenvolvimento da inteligência no ser humano.
Então por que nossas escolas são voltadas apenas para a dimensão do mental, a dimensão invasiva, fria, calculista, exata?
Provamos no decorrer destes milhares de anos que esta dimensão humana sozinha não é capaz de nos trazer paz e alegria. Provamos que atribuir a responsabilidade de nossa vida e desenvolvimento apenas a dimensão da inteligência é catastrófico para a vida humana a nível individual, coletiva e para todas as espécies vivas do planeta.
Se olharmos para o que construímos com nossa capacidade mental, sem dúvida veremos maravilhas: desvendamos a estrutura do átomo; fomos ao espaço; descobrimos a lógica do funcionamento do corpo humano; desvendamos certas leis da natureza que nos permitiu multiplicar por milhares de vezes a produção agrícola, etc; construímos lindas habitações individuais e coletivas; desenvolvemos belíssimos instrumentos musicais e criamos a fantástica arte do cinema, etc; mas fomos incapazes de parar de gerar dor, morte e destruição provenientes de nossos próprios atos políticos. Tornamo-nos cada vez mais incapazes de frear a máquina de guerra destruidora que nosso gênio mental inventou e perdemos a capacidade de amar, respeitar o próximo, termos sentimentos profundos e nos tornamos cada vez mais fúteis e insensíveis ao sofrimento do outro. Nossa comunidade não é mais uma comunidade pois não conhecemos nosso vizinho. O amor tornou-se uma mercadoria e o sonho, a intuição, o deslumbramento com o mundo que nos rodeia foi dando lugar à preocupação exacerbada para com o dia de amanhã.
Um ser frio, calculista e individualista nasceu a partir da predominância da mente sobre as outras dimensões que compõe o humano. Por que nas escolas, além do ensino da utilização da mente não se fala da beleza, da gentileza, da leveza da poesia, da sensibilidade, do deslumbramento frente ao insondável e maravilhoso mistério da vida? Por que não se ensina a amizade, o companheirismo, a solidariedade, a alegria de se estar vivo junto com o outro e por isto mesmo com possibilidade de desfrutar a vida?
Será que a única resposta que temos para esta questão é que pelo desuso perdemos estas outras dimensões que compõe o que chamamos de humano?
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