É preciso olhar o lugar onde moramos com os olhos do amor; olhar que sai do mais fundo de nosso coração.
Normalmente olhamos o lugar onde vivemos com os olhos da “carteira”, do “bolso”, da economia, das estatísticas, da ambição, daquilo que o lugar possa oferecer e não naquilo que podemos oferecer ao lugar, no que podemos fazer para torná-lo mais bonito e melhor para viver, e isto retira nossa capacidade de enxergar a beleza que reina nesses lugares.
Esta atitude nos afasta da natureza, nos impede de perceber a teia de relações existenciais que nos cerca. Isolamo-nos, alienamo-nos do meio ambiente e vivemos apenas a teia das relações sociais.
Acontece que essa visão é estreita, cativa, porque não percebe que nossa existência enquanto humanidade não se esgota em nós mesmos. Muito pelo contrário, a cada dia aprofundamos nossa dependência dos reinos animal, vegetal e mineral porque a produção das coisas que tanto desejamos enquanto agentes sociais consumidores provem da matéria prima desses reinos. Só que nossa alienação do processo produtivo é de tal monta que não conseguimos enxergar nas coisas que compramos sua origem.
De onde provem tal ou qual objeto? Como foi produzido? O que foi necessário fazer para tal ou qual produto chegar às nossas mãos?
Essas perguntas não ecoam em nossas consciências porque nos acostumamos aos produtos finais. Não nos interessa de onde ou como foi produzido, o que importa é que esteja em mãos. Não importa o que foi preciso fazer para que o produto esteja a minha disposição. Não importa como foi extraída da natureza a matéria prima para fazer o que tenho em mãos, não importa o desgaste ou o sofrimento que causou, o que importa é minha satisfação fugaz.
Não mais construímos nossos brinquedos, não fazemos nossa comida, não construímos nossa casa e nem nossa cidade. Não temos mais vínculos com o processo de criação mas tão somente com o objeto final que logo se transformará em lixo.
O vinculo com as coisas se estabelece quando temos consciência de seu processo de produção. Como ele é feito? Assim também se dá com relação ao amor que podemos ter com as cidades onde moramos. Como ela surgiu? De onde vieram seus fundadores? Qual sua história? São perguntas que criam vínculos, criam respeito e abrem as portas da percepção para ver melhor a maneira como podemos melhorar o espaço da cidade onde habitamos. Olhar com olhos amorosos e profundos o lugar onde vivemos observando a teia de relações que estabelecemos com a vida fora de nós é um processo de desalienação e transformador para com nossa cidade e para conosco mesmo.
Pense nisso!
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