“...Havia quatro covas e em uma delas se depositou madeira seca, sobre a qual colocaram o estrado com o corpo, cobrindo-o em seguida com mais lenha seca de maneira que ficou totalmente coberto. Um combustível foi derramado e um palito de fósforo foi riscado e lançado sobre a madeira. O fogo foi aceso. Nesse momento se fez um grande silêncio. Uma imensa chama subiu e o fogo passou a arder devorando aquela madeira e consumindo aquele corpo. O cheiro quase imperceptível de carne sendo cremada era levado pelo vento em direção ao rio, enquanto familiares, amigos e centenas de sannyasins recomeçavam a cantar e dançar ao som daquele ritmo frenético tocado pelos músicos, festejando a passagem do ente querido para um novo estágio da vida, talvez mais próximo de Deus.
O cansaço foi tomando conta de todos e lentamente começaram a se retirar seguindo cada qual a sua direção, até que por fim a música cessou por completo e todos se foram. Eram por volta das 17h30min daquela estranha tarde quando também me retirei do local indo em direção ao meu quarto. O fogo ainda consumia toda aquela lenha e o corpo da sannyasin. Fagulhas subiam em direção ao céu e pássaros sobrevoavam o rio. A praça agora estava deserta e nada mais restava a não ser uma fogueira consumida para bem mais da metade.
No caminho para meu quarto fui pensando na beleza daquele ritual de despedida feito por aquele povo; fui pensando na brevidade da vida aqui na terra e na imortalidade da alma. O mundo ocidental valoriza enormemente o que é perecível e superficial e esquece-se do que é permanente e essencial.
No dia seguinte pela manhã voltei ao local e cinzas ainda quentes denunciavam a cremação do corpo do dia anterior.”
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