terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A EDUCAÇÃO NOSSA DE CADA DIA



Foi com grande indignação que recebi e-mail informando que os 04 adolescentes do ensino médio que ganharam o concurso nacional de Olimpíada Brasileira de Biologia, não puderam participar da 18ª Olimpíada Internacional de Biologia realizada no Canadá entre os dias 15 e 22 de julho porque o governo alegou não ter dinheiro para custear as passagens destes estudantes e mais dois acompanhantes àquele país.
A educação é prioridade no Brasil diz o presidente Lula. A educação é prioridade na Bahia, diz o governador Wagner. E todos os outros governos brasileiros dizem em coro: a educação é prioridade no meu governo. Isto independente do partido que está no poder.
E por que os políticos dizem isso quando o que vemos em todo o país é uma educação esfacelada, com professores mal pagos, escolas sem infra-estrutura para funcionar, com falta de verbas, com falta de incentivo à capacitação de professores, com materiais didáticos de baixa qualidade, com salas entupidas de alunos, com professores fazendo greve para ter seus direitos atendidos, etc? Porque hoje todos sabemos que a educação é básica para o desenvolvimento de um país como provam os vários Estados Nacionais que investiram maciçamente em educação; porque se sabe que a educação é fundamental para o fomento da cidadania e da construção de um país mais justo e igualitário; porque se sabe que está na educação o futuro da humanidade. E esta verdade está em todas as bocas: desde o homem culto até aquelas pessoas analfabetas que lutam para manter seus filhos na escola porque pensam que só ali os filhos podem vir a ter alguma chance neste competitivo mercado de trabalho. E os políticos sabem disso. E falar em educação como prioridade gera votos, gera mídia, gera possibilidade de estar no poder por mais alguns anos. Quiçá, para sempre.
Há alguns anos atrás, havia poucas escolas no Brasil para muitos jovens que não tinham acesso a ela. Educação era privilégio dos filhos de ricos e poderosos fazendeiros donos do poder político, senhores do poder econômico que sabiam que era necessário ter seus filhos uma formação universitária para poderem continuar mandando no país. E assim era feito. Com o passar dos anos a educação democratizou-se. Aos pobres, o acesso à educação foi permitido, aliás, exigido por um sistema produtivo muito mais evoluído que necessitava de uma mão de obra mais qualificada, precisava de uma mão de obra com requisitos mínimos para poder mover uma fábrica ou necessitava de pessoas que soubessem ler o mínimo para entenderem os manuais de funcionamento das máquinas e até de mecanismos simples de computação e automação.
O sistema produtivo atual não aceita mais o analfabeto. Este fica completamente a margem, cabendo-lhe tão somente serviços domésticos e similares. O sistema precisa de mão-de-obra mais qualificada, alguns inclusive com formação universitária. Foi portanto, a tecnificação do sistema produtivo que levou o Estado Brasileiro a investir um pouco mais em educação segundo as necessidades de um mercado que precisava de mão-de-obra qualificada que pudesse dar andamento à máquina burocrática, técnica e produtiva do país e... só isso. Infelizmente não houve uma política de Estado voltada para o aperfeiçoamento humano, voltada para a formação de valores humanísticos, voltada para a formação de seres humanos capazes de se inserir com qualidade em um mundo novo que se avizinhava e que vai se delineando cada vez mais como um mundo onde é necessário não apenas a formação técnica-científica, mas também a habilidade para tomar decisões, solucionar problemas, ter autonomia intelectual. O fim último da entrada da grande massa de estudantes que hoje estão em ambiente escolar, foi e continua sendo tão somente sua precária inserção no sistema produtivo.
Não há dúvida que o analfabetismo tem seus dias contados, o novo conceito agora é o do analfabeto funcional, conceito este existente apenas em países de terceiro mundo como o Brasil. Não resta dúvida também, que estamos implementando uma política educacional formadora de mão-de–obra de péssima qualidade e de formação humana nenhuma. Não há no Brasil uma política de Estado voltada para a formação de mão de obra de boa qualidade e de cidadãos aptos para o exercício da democracia. Não há interesse em se formar cidadãos críticos neste país.
As classes dominantes já não são as únicas a irem para as universidades mas são as únicas a fazerem os doutoramentos e pós-doutoramento que é exigência de mercado hoje. E as coisas afinal de contas, continuam muito parecidas, atores mudaram, o cenário mudou, a roupagem mudou, mas em essência, tudo permanece o mesmo. Se antes as massas populares eram analfabetas porque não havia necessidade de alfabetização para o trabalho, hoje, se elas entram nas escolas, é porque o mercado assim o exige, no entanto que lhes seja ensinado apenas o suficiente para lhes retirar do analfabetismo para que possam mover a máquina pública, a burocracia, e ponto final. Passamos agora a criar o analfabeto funcional. Cidadania, ora isso é coisa para os ricos, para a classe média alta que nem mais se preocupa com o terceiro grau mas sim com os doutoramentos e os outros pós.
Para a massa da população resta uma educação de última qualidade, resta uma educação entregue as traças, cuja finalidade é apenas retirar o individuo do analfabetismo para que possa servir aos interesses do capital e render muitos, muitos votos para os políticos. E enquanto isto, o país vai a deriva, como um barco a velas, solto na imensidão de um grande oceano.
E as perguntas que deixo são: mudou a visão que as elites brasileiras tem da educação tanto as de ontem quanto as de hoje? Mudou a sua visão de sociedade?

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