domingo, 30 de maio de 2010

INTERIORIDADE

Normalmente temos medo de estar sozinhos, em silêncio, contemplando nossa interioridade. O que há lá dentro? Qual a extensão dessa interioridade, desse vazio?
Temos medo de descobrir o fabuloso mundo onde o prazer reside em se contemplar o vazio, em se deleitar com a própria essência do ser.
Vivemos como se existíssemos apenas para o mundo do trabalho, para o mundo social, esforçando-nos para aparecer melhor diante do outro. Estamos 24 horas nos relacionando com o outro - inclusive nos sonhos - direcionando nossa energia para a mente a fim de resolvermos os milhares de problemas que nos mesmos criamos.
“Nunca tenha um gato”, disse o mestre ao seu discípulo em seu leito de morte.
Uma pessoa que não possui centramento faz daquilo que possui, mesmo que seja um simples gato, não um prazer, mas um problema para poder manter a mente continuamente ocupada.
Preocupação é uma característica do ser humano moderno. Fazer; estar ocupado; não ter tempo; são palavras-chave para quem quer entender o ser humano moderno. E todos os que se recusam a acompanhar o ritmo frenético deste mundo são chamados de preguiçosos. Não ter tempo para si, não parar um pouquinho para dirigir-se para dentro é um estado muito apreciado hoje e significa estar muito bem; bem de acordo com o padrão ditado pelo conceito de bem-estar moderno. Assim mostra-se que se é uma pessoa muito requisitada.
O que existe por traz do ser humano social? O que acontece quando o sentar silencioso transforma-se em meditação? Um mundo novo se abre, o futuro deixa de preocupar e o passado deixa de existir e as questões do hoje, do agora, são o nosso único foco de atenção.
Temos medo do futuro. Temos medo do que virá. Exatamente igual ao ser humano primitivo que tinha medo das forças da natureza. Não temos confiança naquilo que desenvolvemos hoje, ainda não compreendemos que o futuro é fruto de nossa ação agora. O medo do futuro nos atormenta e isso afeta nossas relações sociais, afinal, o outro é meu concorrente e eu preciso estar sempre um passo a sua frente.
Dentro de uma roupa elegante, debaixo de um chapéu bonito, atrás de um óculos escuro e moderno pode existir um ser humano completamente desconhecido de si mesmo, um ser humano que nunca se tocou com profundidade, um ser humano que nunca ouviu seu próprio coração e nunca se permitiu admirar a própria desconhecida presença. O ser humano “irreal” precisa tocar a própria realidade e chorar de alegria por isso. .

sábado, 15 de maio de 2010

Mente e meditação

Largar hábitos enraizados, costumes encarnados já a décadas ou mesmo há gerações, por pior que sejam, exige um esforço grande, uma vontade férrea.

É fácil criticar, diz o ditado popular, difícil é se autocriticar, ver a si mesmo avaliar-se na prática diária com o intuito de mudar para melhor.

O simples ato de chegar a um compromisso no horário marcado é difícil para muitas pessoas. Efetivar compromissos até consigo mesmo, como deixar de comer uma barra de chocolate ou batatas fritas é tarefa árdua para alguns. O que dizer então, por exemplo, de querer levar vantagem em tudo que faz; em mentir constantemente; em comer mais que o necessário; em ter mais que o suficiente; em roubar o dinheiro público que está ali em sua frente; etc?

É difícil ser honesto consigo mesmo quando existe todo um contexto global formando mentes dentro de padrões tão mesquinhos e desonestos.

Somos ensinados a pensar que este fenômeno social chamado mente é nossa essência, que nos somos aquilo que pensamos, e isso não é verdade. Nós somos muito mais do que nossas mentes.

No trabalho meditativo, aprendemos que a mente é formada dentro de um contexto social específico e que nossa essência está muito mais além e não necessita de mentiras, de desonestidades, de falsidades.

Aprendemos que temos um cérebro e este cérebro desenvolve uma mente que é um conjunto valores, de pensamentos, de padrões comportamentais segundo o contexto em que nasce o sujeito; ou seja, enquanto o cérebro é um órgão que tem origem no desenvolvimento biológico humano, a mente é produto cultural.

Todos nós somos portadores de um cérebro com as mesmas possibilidades, mas cada cérebro desenvolve uma mente que funciona segundo padrões ditados pelos costumes, pelas normas etc, e com a qual nos identificamos de tal forma que pensamos ser estes padrões e agimos de acordo a esses padrões. Ou seja, a liberdade que tanto acreditamos possuir e é símbolo da chamada democracia ocidental, não passa de um grande engodo já que nossa ação é resultante de uma mente que existe premida entre os costumes e a moral vigente.

No trabalho meditativo, aprendemos que estar em meditação é estar além do ontem e do amanhã, é estar no momento presente, pronto para uma ação efetivamente consciente, sem manipulações de uma mente carregada de memórias que em nada nos ajudam a viver o hoje.
Firdauz

quinta-feira, 13 de maio de 2010

TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO DE FIRDAUZ:ELIAS EM A FÁBULA DO CASTELO

-"0 homem vive no mundo da dúvida, no mun¬do do meio. Ele não é nem animal nem santo, não está nem aqui na terra, nem lá no céu. Vive perdido entre os mundos do espírito e da matéria e por isto não consegue ter paz e ser feliz. E somente aqueles que ultrapassaram esta dúvida é que alcançam a paz. Mas comumente, quando alguns encontram a resposta, os outros homens não suportando a descoberta o matam e o exilam de seu meio ou os chamam de santos ou loucos e criam uma lenda sobre eles". Elias o interrompeu mais uma vez e per¬guntou:
-Mas por que eles fazem isto se você mesmo disse que a busca da verdade é parte principal de sua própria história de vida?"
E o vento respondeu:
- É porque eles usam o horrível véu negro da ignorância por sobre a cabeça, que lhes encobre a visão e os impede o advento da sabedoria. Aque¬les que ousam retirar este véu tornam-se uma ame¬aça porque mostram que é possível retirar o véu e viver com sabedoria. Infelizmente, o ser humano ha¬bituou-se a viver na miséria da ignorância".
Naquele dia Elias deixou-se ficar muito pensati¬vo depois do vento partir. Ainda o vi por muitas ho¬ras sob o velho carvalho a refletir sobre as palavras do vento. Depois adormeceu e sonhou ser um ca¬ranguejo. Um caranguejo que numa noite de luar saiu de sua casa na lama para reverenciar a dama da noite, quando duas mãos fortes o agarraram. Ele lutou, abriu suas garras, as quais considerava muito fortes, para ferir o inimigo, mas este o imobilizou e o jogou em um paneiro feito de vime, cheio de outros caranguejos. Sentiu-se preso e acordou lutando para se desvencilhar daquela prisão. Foi a primeira sensação de medo que teve.

sábado, 8 de maio de 2010

Por que poesia em tempos de indigência?

Nos dicionários encontramos a palavra indigência significando pobreza, carência, falta do mínimo necessário à sobrevivência, sempre numa referência a não satisfação das necessidades básicas do corpo. No entanto, a pergunta acima, me leva a uma reflexão que vai além destas afirmativas dicionárias. A indigência de que o homem padece hoje e talvez sempre tenha padecido é também de cunho emocional/espiritual, é indigência de si mesmo, de carinho e de compaixão para consigo mesmo. É a indigência dos tempos míticos desde nossa expulsão do paraíso.
Em minha visão, no entanto, nós nunca estivemos tão próximos como agora, de uma mudança mais radical do que a que se avizinha, como uma possível volta ao reino paradisíaco perdido.
Sabemos que, tecnicamente, a fome não é mais compatível com o mundo contemporâneo e que a produção de alimentos mundial é mais que suficiente para matar a fome de todos os habitantes de nosso planeta. Então, por que ainda existir este flagelo que mata milhões de pessoas? Por que nós, agora imbuídos de conhecimentos científicos, não resolvemos muitos dos problemas com soluções óbvias, que afligem a humanidade como um todo, inclusive pondo em perigo a própria sobrevivência do planeta?
A resposta é clara. Ela está na necessidade urgente de uma mudança comportamental do ser humano. Uma mudança nos nossos valores, nos nossos hábitos, na nossa capacidade de “enxergar” o mundo como uma entidade viva da qual fazemos parte apenas como uma teia de infinitas relações de interdependência e que ao quebrarmos esta teia, afetamos todo este equilíbrio vivo. Ou seja, estamos agindo de forma tal que desequilibramos a rede da vida pondo em perigo toda a terra.
Uma mudança de valores portanto se faz necessário. Uma mudança espiritual se faz urgente.
E aí entra a importância da poesia nestes tempos de indigência pelos quais passamos, porque é palavra transformada em emoção, em experiência existencial/estética. Uma frase bem escrita, uma reflexão transparente e aberta nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos a partir de nossa própria vivência. Olhar o mundo com emoção, emocionar-se com um pôr-do-sol ou um nascer-do-sol, com um olhar de uma criança, com o desabrochar de uma rosa é poesia. Perceber a vida como uma cadeia de aconteceres e imaginar-se nesta cadeia, como parte integrante da dança do universo é poesia também. Olhar para o interior de nós mesmos e percebermos a mágica composição de nossa constituição é a poesia da vida. Poder olhar a vida e estaziar-se com sua elegância e beleza é impossibilitar-nos agir contrariamente as leis naturais e mudarmos nossos comportamentos agressivos, anti-sociais e antiéticos. Olhar a vida, portanto, como o poeta olha a palavra, é condição fundamental para que transformemos este planeta num lugar mais habitável, mais humano e mais bonito de se viver. A poesia na verdade, é a nossa essência, é o que unifica todos os povos, nosso bem comum.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Medicina se rende a prática da meditação

Ministério da Saúde baixou portaria incentivando postos de saúde e hospitais a oferecer a técnica em todo o País
“A agência do governo dos EUA responsável pelas pesquisas médicas (NIH, na sigla em inglês) reconheceu formalmente a meditação como prática terapêutica que pode ser associada à medicina convencional. O Ministério da Saúde brasileiro baixou uma portaria em que incentiva postos de saúde e hospitais públicos a oferecer a meditação em todo o País.
Essas ações governamentais são sinais da tendência de encarar a meditação não simplesmente como prática de bem-estar, que faz bem apenas à mente e ao espírito. Parar diariamente alguns minutos para se concentrar e se desligar do turbilhão de pensamentos que ocupam constantemente a cabeça também ajuda a manter a saúde física.
“A meditação é diferente da medicina convencional porque quem cuida de você não é o médico. É você mesmo", explica a médica anestesista Kátia Silva, que coordena as atividades de meditação no Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. Na cidade, 70% dos postos de saúde oferecem atividades da chamada medicina tradicional, que inclui acupuntura, tai chi chuan e meditação.
Relativamente recentes, as pesquisas começaram nos anos 70. Uma pesquisa com a palavra meditação no acervo online da Biblioteca Nacional de Medicina, do governo americano, traz 1.400 estudos científicos.
Entre outros benefícios, meditar previne e combate a depressão, a hipertensão arterial, a dor crônica, a insônia, a ansiedade e os sintomas da síndrome pré-menstrual, além de ajudar a reduzir a dependência de drogas.
Esses estudos mostram que a meditação reduz o metabolismo - os batimentos cardíacos e a respiração ficam mais lentos e o consumo de oxigênio pelas células cai. É isso que dá a sensação de relaxamento e tranqüilidade.
As mesmas pesquisas sugerem que prática também interfere no funcionamento do sistema nervoso autônomo, que é responsável, por exemplo, pela liberação dos hormônios noradrenalina e cortisol durante os momentos de stress. Em quem medita, a duração dessas "reações de alarme" são mais curtas. Dessa forma, a pressão do sangue e a força de contração do coração ficam alteradas por pouco tempo, comprometendo menos a saúde..”

É cada vez mais comum ler textos com teor semelhante. Embora a matéria acima peque no que diz respeito ao conhecimento acerca do que é meditação ( grifei a palavra concentração para lembrar que concentrar não é meditar, como erra ao dizer, o autor do texto), nos mostra o quanto hoje a prática da meditação se dissemina no mundo.
Quando se estabelece essa prática cotidianamente, nossa vida se altera, a percepção atinge índices mais elevados e a qualidade de nossas vidas melhora. E não há nenhuma mágica nisso. O que ocorre é que ao nos tornarmos mais conscientes, ao nos percebermos mais, ao atentarmos mais para nós mesmos, e essa é uma meta da meditação, naturalmente passamos a maravilhar-nos com os vários aconteceres de nossa vida, mesmo com os mais simples fatos como acordar ou escovar os dentes. Passamos a ser observadores conscientes das tarefas que executamos cotidianamente e vamos vendo o quanto elas são positivas ou negativas para nós.
A prática da meditação nos conduz a presença constante de nós mesmos. Nos conduz ao testemunhar de nós mesmos e é isso que nos traz consciência.
A matéria acima é apenas um reforço quanto a intensa campanha que mobilizamos para que mais e mais pessoas se interessem pela meditação e passem a usufruir deste maravilhoso ato de ir tornando-se mais cônscio de si mesmo.