quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Na hora da morte

Na hora de minha morte

Quero olhar no fundo de mim

E dizer que valeu a pena!


Quero lembrar das sementes

Que plantei neste solo fértil

E lembrar dos olhares que abracei

E dizer obrigado por te conhecer



Quero estar alma aberta

E sorrir encantado

Pelos presentes que dei e recebi



Lembrar que conheci

Outros mares

Outras terras

E tantas outras pessoas



Quero sentir vontade de sorrir

Sorrir e sorrir por tudo que passei

Pelas horas mal dormidas

Pelo sono excessivo

Pela fome de amor



Quero lembrar das estrelas que vi

Em tantos lugares mágicos

E agora as verei mais perto ainda



Quero lembrar dos alimentos

Que saciaram minha fome

E agradecer-lhes a generosidade



Adorarei pensar nos animais

Que vi nascer

E me acompanharam nesta jornada

E olhar com compaixão aqueles

Que ainda não os amam

Por pura ignorância



Quero estar em estado de prece

E agradecer a maravilha

De ter passado por este planeta

Com o qual contribui parcamente



Quero olhar a todos no rosto

E fazê-los lembrar

A importância da felicidade

A preencher nossos corações



Estarei ouvindo música

Aquelas das quais sempre gostei

E gostarei



Vou dizer adeus

Com alma plena de vida

Agradecido ao universo

Pela obra divina

De ter me dado novamente

A oportunidade da vida



E nesta hora

Deixarei apenas uma única lágrima

De saudade e de tristeza

Por todos aqueles

Que não pude ajudar

A compreender a benção

E a oportunidade

De estarem vivos

E não terem aprendido a viver.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Redenção humana

No fundo, todos nós temos esperança de que amanhã, ou o ano novo que se aproxima, será melhor.
Temos o dom de sonhar, de projetar um futuro mais brilhante para todos, porque somos estrela, temos brilho interior, temos luz, que sem se saber exatamente de onde vem, lentamente vai clareando nosso caminhar.
Aparecemos na terra como rudes animais, sem palavras, sem carinho, apenas lutando pela sobrevivência como qualquer outro ser vivente. Mas o nosso sol interior, por um milagre qualquer da existência, floresceu e trouxe a inteligência para aquele que estava fadado ao desaparecimento.
Nasceu então o mais brilhante animal que jamais tinha estado neste planeta. Transformou-o, transformando-se. Acumulou vasto poder. Dominou enormes quantidades de conhecimentos transformados em criações que mudaram nossa forma de viver.
Homem movido a esperança, homem/Pandora, aquela que trouxe os males ao mundo, trouxe também a esperança de um dia, num salto, numa tomada de consciência olhará de outra forma, de outro ângulo a si mesmo e ao mundo e então este não mais será o que é.
Depois de tanto caminhar, a consciência florescerá e no mundo se redimirá.
Esta é a minha convicção.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Palavras

Certas palavras saem da boca, desordenadas, taxando e espezinhando a alma de quem fala ou de quem ouve.
Palavras são vãs, saem pelo fluxo da respiração, por vezes calmas e arredondadas, por vezes ferozes e pontiagudas. Dependem apenas do fluxo da respiração.
Certas palavras saem da emoção do momento. Traduzem sentimentos diversos, passageiros, como passageiro é o momento em que são ditas.
Sob o influxo da situação vivida, frases são ditas sem exatidão, o gesto é realizado sem certeza de si mesmo. E cai em desgosto, posto que forte demais.
Os mecanismos de análise, o cérebro, os conceitos, a moral, tudo é secundário quando o ímpeto juvenil desanda a produzir gestos “manietados” pelo fluxo constante e feroz dos sentimentos.

E as palavras são vãs. Dissolvem-se no ar.
E é bom que assim seja. Não importa que sejam falsas ou verdadeiras.

Certos sentimentos não são bons aliados das melhores palavras.
Tenham, portanto, compaixão por alguém que fala apenas pela boca e solta palavras que sentimos que pesam no ar.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A cidade, nossa criação

“Que homem é o homem que não torna melhor o lugar onde mora?”
Com essa pergunta, Balian, traduz sua perplexidade diante daqueles que nada fazem pelo lugar onde moram.
E esta é a nossa perplexidade também. Seabra, pequena cidade da bela Chapada Diamantina, Bahia, se torna dia após dia, um lugar pior para se viver. Ruas esburacadas e sem arborização, praças quebradas e sem jardins, rios sujos e degradados e lixo jogado nos mais variados cantos da cidade.
O que estamos construindo para nós? Queremos ratos, baratas, pernilongos e outros insetos nocivos co-habitando em um mesmo espaço conosco?
Por que não considerar a cidade como a própria extensão de nossas casas? Nosso quintal? Nosso jardim?
Por que se isolar atrás de quatro grandes muros quando podemos ter todo um espaço exterior onde podemos partilhar com outros as belezas do lugar onde vivemos?
A riqueza do lugar onde habitamos não está nos grandes prédios que podemos construir ou na quantidade de carros e casarões que uma cidade possa possuir. Não, esta riqueza se encontra na qualidade de nossas ruas e praças, na qualidade do ar que respiramos ou da água que bebemos, na qualidade dos lugares aprazíveis que construímos ou se encontra no sentimento de pertencimento ao lugar que pouco a pouco vamos criando.
Uma cidade, como uma casa, é um ato de criação, um ato, portanto, divino, pois é divina nossa capacidade de criar e transformar o ambiente onde vivemos. E como toda criação, a cidade é reflexo daqueles que a habitam. E aqueles que a habitam mostram, através de sua criação a sua relação com o que é divino.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nossos filhos

Quando olho meus filhos dormindo, brincando ou simplesmente sendo, sinto uma enorme esperança brotar dentro de mim.
Aposto neles, e no que faço por eles, que o dia de amanhã será melhor. Aposto neles, que serão adultos cidadãos, que criarão e darão sua parcela de contribuição para termos uma sociedade melhor.
Digo que continuarão sendo curiosos e corajosos; Terão amigos e solidão; viajarão muito em busca daquilo que para eles será fundamental; questionarão sempre e não se contentarão com respostas simplistas ou simplórias. Estarão de prontidão em busca do que é essencial e gostarão da boa música e de todas as formas de arte e principalmente a literária.
Serão bons amigos e primarão pela alegria de viver porque estão aprendendo que a felicidade é um direito dos vivos e a trarão bem enraizada no coração.
Respeitarão o silêncio porque saberão que só se obtém respostas às questões fundamentais através do contato com o profundo silêncio interior. Saberão também viver aquilo que dói porque a dor é da condição humana e é inevitável experimentá-la, porque o discernimento entre o bem e o mal é também fruto da vivência e compreensão acerca da dor pelas quais passamos.
A vida será olhada por eles como um milagre, um milagre e uma viagem, uma experiência de crescimento espiritual. Portanto, olharão os erros sem sentimentos de culpa, mas como fruto da inexperiência e perceberão seu próprio florescimento com humildade, gratidão e verdade.
Respeitarão a si próprios e aos outros e indignar-se-ão frente a estupidez humana que promove guerras e infelicidades em vez do perdão. Olharão de cima da montanha os vales profundos da alma e de dentro dos vales, enxergarão os picos luminosos do espírito.
Quando vejo meus filhos, a esperança em um mundo melhor cresce dentro de mim; quando vejo tantas crianças luminosas, com seus sorrisos puros e curiosos, amigos e humildes, tenho certeza de nossa imensa e bela responsabilidade como pais, como educadores, como amigos e irmãos, co-criadores de um mundo cada vez mais lindo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Qual é a sua religião?

Qual a sua religião, professor? Por vezes me perguntam os alunos.
Uma pergunta como essa, embora feita de maneira direta, não pode ser respondida assim de chofre. É preciso que a resposta se estenda um pouco mais.
Em primeiro lugar, contraponho a pergunta com uma outra: como exercemos nossa religiosidade?
É sabido, que todas as grandes tradições tratam a prática da religiosidade dentro da ótica da amizade, da cooperação, da pureza de intenções, do respeito ao outro ser e consigo mesmo, dentro de uma cosmovisão de paz e fraternidade.
Em segundo lugar, respondo que minha religião é a do ser, é a profundidade com que trato a mim e as coisas que existem em meu entorno. É a minha relação de reverência para com os mistérios da vida que não me cabe saber. É o respeito, crescente para com as crianças, para com os animais, para com os vegetais e para com todas as outras formas de vida que existem no planeta, já que minha convicção religiosa diz que fazemos parte de uma teia de relações onde nenhum ser é superior ao outro e todos nutrem-se, de uma forma ou de outra, de todos. E onde o ser humano, com sua enorme capacidade de refletir sobre si próprio, tem por obrigação, zelar pela manutenção e equilíbrio desta rede de vida que se interdepende.
É uma religião diferente daquelas cuja obrigação dos fiéis é apenas freqüentar em dias marcados o seu culto para logo depois, ao sair de seu templo de meditação, afogar-se novamente em más ações, em desrespeito para com o próximo e para com todos os outros viventes que compõe a cadeia de vida do planeta.
A religião na qual acredito, é aquela cuja responsabilidade pelos meus atos não podem ser depositadas nas pedras das igrejas ou no colo dos sacerdotes ou nos ombros de Deus. A responsabilidade total de meus atos recai sobre mim, sobre minha vida, sobre a vida de todos os meus semelhantes e dessemelhantes. É uma religião onde não há culpa, nem pecado, mas sim ignorância, erro, experiência, que precisa ser o tempo todo pensada e repensada e principalmente possui como lema a humildade e possui profunda esperança em uma vida cada vez mais plena.
É uma religião que não possui dogmas, mas fé, e busca constante consciência alerta. E talvez por isso, nem mesmo possa ser chamada de religião, mas de religiosidade.

domingo, 24 de outubro de 2010

A doce alegria de aprender

A cada dia que passa aprendo mais uma coisinha, o que me traz mais prazer de viver. E o prazer de meu viver vai se dando através da emoção do ato de conhecer um pouco mais sobre as coisas. São pequenos vislumbres de poder olhar o mundo de modo mais individual, próprio, de um sentir único, diferente dos demais viventes e por isso mesmo, merecedor, como todos os outros, de respeito.

A cada dia que passa podemos admirar uma forma diferente. Não porque ela não existisse anteriormente, mas porque aguço meu olhar naquela direção e vejo o que não via, embora a muito estivesse lá. E o olhar que se maravilha com a forma vista, agora transmuta o ser internamente trazendo-lhe admiração pela vida que se revela. E o olhar vai se aprimorando vai crescendo em intensidade e profundidade com esse pequeno exercício de olhar e verdadeiramente ver.

Andamos como autômatos, acostumados a ver... não vemos. Criamos o hábito de achar que conhecemos e desperdiçamos enormes oportunidades de realmente conhecer. Somente quando sacudidos por algum evento externo a nós é que prestamos mais atenção. Um exemplo banal é com relação a nossa própria alimentação. Sabemos que certos alimentos não nos fazem bem e, no entanto, vamos postergando e comendo até que certo dia somos despertados por aquele mal que sabíamos viríamos a ter.

Andamos como autômatos porque acreditamos muito facilmente no que nos dizem, não investigamos por conta própria, vamos deixando a curiosidade a medida que crescemos e nos tornamos adultos.

Os adultos não são curiosos, temos uma mente sedentária impregnada de conceitos antigos trazidos pelos mortos passados. Não é a toa que Marx falava que os espíritos dos mortos atrapalhavam o dos vivos. Apenas reproduzimos padrões, comportamentos, todos deixados para dar continuidade a estrutura da sociedade. E por que perdemos o viço da curiosidade infantil? Por que deixamos de perguntar o porquê das coisas serem como são.

Quando nascemos e ainda crianças, somos únicos, indivíduos cuja capacidade de pensar por si próprio impressiona. Somos curiosos, pesquisadores do mundo que se oferece a nós, vamos buscando entre erros e acertos as respostas. Infligimos regras e rompemos barreiras. Mas por essa ousadia, pagamos um preço e vamos sendo obrigados a obedecer as regras de convívio social. Vamos perdendo o nosso foco e adquirindo o foco social, vamos deixando o indivíduo e assimilando a condição de igual aos outros. Vamos nos homogeneizando, vamos nos tornando iguais aos outros, pensando da mesma forma, do mesmo jeito. Vamos perdendo a capacidade de reinventar as coisas e nos conformando com a realidade criada por nossos mortos. Vamos nos acostumando com o que temos e nossa rebeldia natural vai dando lugar ao ser humano domado, seco, sem o viço da criatividade, da inventividade. Vamos nos tornando conformistas. E passamos a conviver com a mentira, com a injustiça social, com a hipocrisia, com a tensão da vida diária. Vamos deixando que tudo se torne amarelo, sem o nexo com o que torna a vida realmente digna de ser vivida. Vamos sendo uma corrente amorfa e sem conteúdo individual, vamos nos tornando uma massa de gente que vive sem viver e morre sem saber que estava vivo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Tenho um dever

Como membro de uma comunidade da qual foi roubada a possibilidade de sonhar,
Coloco-me o dever de sonhar e criar o melhor dos sonhos para mim,
E cubro minha vida de possibilidades.
Invento magníficas viagens.
Vou a Londres, Paris e Amsterdã.
Lá, sou saudado como um grande fazedor de sonhos.
Cubro-me de estandartes coloridos e saio às ruas a contar a existência de um mundo melhor.
Construo possibilidades, invento alegrias e delícias de viver.
Falo do mundo como se fosse verde e invento belas verdades.
Tenho que fazer isto...
É minha alegria alentar as pessoas de meu mundo com lençóis de ouro e bordas de diamantes.
Quem sabe um dia, muitos não despertam e se vêem como reis e rainhas disfarçados.

Atenção Plena

Atenção, atenção plena é o que se propõe para todo aquele que deseja avançar na direção correta.

E o que é a atenção plena?

É estar atento a todos os movimentos que fazemos em nossa vida, é estar atento aos pensamentos que nos passam pela cabeça a todo instante. Atenção plena é prestar sempre o máximo de atenção a nossa respiração, o entrar e sair do ar em nossos pulmões é perceber a mágica constante das reações que nossas ações provocam. Atenção plena é viver o aqui e o agora, é não se deixar iludir pelos sentidos do corpo e olhar a direção na qual estão a nos conduzir. Perceber os passos, os pés no chão caminhando em direção aos atos do dia, o que se está fazendo agora. Perceber os movimentos dos dedos digitando, a respiração que não para, os pensamentos que explodem constantes na mente. Estar atento é não se permitir envolver de maneira inconsciente nos desatinos cotidianos.

Olhar uma flor com olhar direto, atento sobre ela é não permitir as pré-conceituações, as pré-fabricações de pontos de vistas envelhecidos pelo tempo, é olhá-la com olhar jovem, desbravador, feito o olhar de criança maravilhada com as coisas da vida.

Olhar novo, inteligente, sem respostas prontas, sem pré-julgamentos. Cada coisa é nova no seu momento. As coisas acontecem no aqui e agora e é nesse aqui e agora que cabem as respostas vindas das mais profundas camadas da consciência.

Atenção plena é condição para uma postura ética frente ao outro porque é um enxergar o outro do jeito que ele é, e por isso, respeitá-lo na sua condição de ser diferente, em sua alteridade.

Atenção plena exige trabalho, exercício constante de auto-observação, observação atenta de si, persistência, meditação.

Atenção plena é percepção clara da rede de interdependência que existe entre todos os seres vivos, é sentir-se parte do grande mistério chamado vida.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A era das incertezas

Vivemos a era da modernidade onde o tradicionalismo vai desaparecendo sem no entanto deixar marcas do que será o amanhã. O tradicionalismo vai deixando para trás as certezas do ontem e nos deixando as veias abertas para o incerto.
O que virá? O que será?
É o fim das certezas e o inicio da era das incertezas como nos diz o prêmio Nobel de química Ilya Prigogine.
É um tempo que nos exige sempre um estado de alerta para o devir. Impõe-nos um estado de criatividade constante, de superação constante ao que é agora. A modernidade exige da população participação e reflexidade. Não nos é mais permitido ações sem planejamento, não nos é mais permitido viver alheios aos problemas sociais. O mundo tornou-se um só, unificou-se através dos meios de comunicação, do sistema financeiro e comercial. A economia mundializou-se e a diversidade cultural passa a ser palco de grandes debates. Estamos no limiar de um novo mundo. A única certeza que temos é que certamente não viveremos do mesmo jeito que vivemos hoje, daqui a uns poucos 50 anos. A globalização política, econômica e cultural nos deixa claro a complexidade do mundo.
Repensar constantemente a nossa prática, a nossa vida, a teia de relações que estabelecemos e a nossa responsabilidade pela cadeia da vida que nos envolve é estar em consonância com esta nova era. Percebemos através da difusão das novas teorias sobre sistemas e através da ação prática dos homens no mundo e suas conseqüências, que só poderemos sobreviver neste planeta caso o pensemos como um sistema único e integrado vivo e em processo de transformação constante. Temos de nos pensar, cada um de nós, como um elo de uma gigantesca cadeia de interações que formam a chamada trama da vida.
Portanto, participar, interagir, conversar, trocar, expor, são formas positivas de ações que precisam ser feitas cada vez mais com consciência social e ecológica, pois são esses atos sociais que realizam a vida que será.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aos que sabem envelhecer

Quanta liberdade vamos sentindo a medida que os anos vão se passando. Quanto prazer se sente quando nos permitimos transgredir por sermos mestres de nós mesmos.

A idade e a experiência, a vida bem vivida, trazem a sensação real de paz que se oferece no interior do ser porque nos vai permitindo viver cada dia, cada hora, no aqui, no momento, sem futuro e sem passado. A aceitação do que é, torna-nos maleáveis quanto aos erros e acertos cometidos no cotidiano; divertimos-nos mais com a vida. Vamos deixando de lado os medos que povoam os anos juvenis e avançamos muito mais profundo no desconhecido porque estamos atentos, vendo e passando por eles.

Com o juízo valorativo mais compreendido como fruto de um maravilhoso fluxo cultural, aprendemos mais fácil e mais rápido com os erros e acertos. Desenvolve-se em nós o equilíbrio, o ponto do meio, o olhar mais profundo e amoroso, e, sobretudo, o riso interior.

Deixar de ansiar e estar sempre no novo que a todo o momento acontece é viver a dinâmica do real do mundo, é estar mais irmanado a ele e, portanto, mais interativo com o mundo que acontece no agora. Deixar-se envelhecer é deixar as superficialidades de lado e mergulhar no ser, na inimaginável amplitude do ser.

Quanto mais velho fico, mais liberdade nos olhos vai aparecendo porque as cortinas do medo que antes os cobria vão desaparecendo diante da crescente compreensão dos processos internos de mim. O mundo se torna mais ilusório e mais real ao mesmo tempo porque ao perceber que é passagem é também matéria.

Se com a idade chega a fragilidade do corpo, chega também o fortalecimento do espírito, chega também um maior desabrochar da alma.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A educação nossa de cada dia

A educação é prioridade no Brasil diz o presidente Lula. A educação é prioridade na Bahia, diz o governador Wagner. E todos os outros governos brasileiros dizem em coro: a educação é prioridade no meu governo. Isto independente do partido que está no poder.
E por que os políticos dizem isso quando o que vemos em todo o país é uma educação esfacelada, com professores mal pagos, escolas sem infra-estrutura para funcionar, com falta de verbas, com falta de incentivo à capacitação de professores, com materiais didáticos de baixa qualidade, com salas entupidas de alunos, com professores fazendo greve para ter seus direitos atendidos, etc? Porque hoje, todos sabemos, que a educação é básica para o desenvolvimento de um país como provam os vários Estados Nacionais que investiram maciçamente em educação; porque se sabe que a educação é fundamental para o fomento da cidadania e da construção de um país mais justo e igualitário; porque se sabe que está na educação o futuro da humanidade. E esta verdade está em todas as bocas: desde o homem culto até aquelas pessoas analfabetas que lutam para manter seus filhos na escola porque pensam que só ali os filhos podem vir a ter alguma chance neste competitivo mercado de trabalho. E os políticos sabem disso. E falar em educação como prioridade gera votos, gera mídia, gera possibilidade de estar no poder por mais alguns anos. Quiçá, para sempre.
Há alguns anos atrás, havia poucas escolas no Brasil para muitos jovens que não tinham acesso a ela. Educação era privilégio dos filhos de ricos e poderosos fazendeiros donos do poder político, senhores do poder econômico que sabiam que era necessário ter seus filhos uma formação universitária para poderem continuar mandando no país. E assim era feito. Com o passar dos anos o acesso a educação democratizou-se. Aos pobres, a educação foi permitida, aliás, exigida por um sistema produtivo muito mais evoluído que necessitava de uma mão de obra mais qualificada, precisava de uma mão de obra com requisitos mínimos para poder mover uma fábrica ou necessitava de pessoas que soubessem ler o mínimo para entenderem os manuais de funcionamento das máquinas e até de mecanismos simples de computação e automação.
O sistema produtivo atual não aceita mais o analfabeto. Este fica completamente a margem, cabendo-lhe tão somente serviços domésticos e similares. O sistema precisa de mão-de-obra mais qualificada, alguns inclusive com formação universitária. Foi, portanto, a tecnificação do sistema produtivo que levou o Estado Brasileiro a investir um pouco mais em educação segundo as necessidades de um mercado que precisava de mão-de-obra qualificada que pudesse dar andamento à máquina burocrática, técnica e produtiva do país e... só isso. Infelizmente não houve uma política de Estado voltada para o aperfeiçoamento humano, voltada para a formação de valores humanísticos, voltada para a formação de seres humanos capazes de se inserir com qualidade em um mundo novo que se avizinhava e que vai se delineando cada vez mais como um mundo onde é necessário não apenas a formação técnica-científica, mas também a habilidade para tomar decisões, solucionar problemas, ter autonomia intelectual. O fim último da entrada da grande massa de estudantes que hoje estão em ambiente escolar, foi e continua sendo tão somente sua precária inserção no sistema produtivo.
Não há dúvida que o analfabetismo tem seus dias contados, o novo conceito agora é o do analfabeto funcional, conceito este existente apenas em países de terceiro mundo como o Brasil. Não resta dúvida também, que estamos implementando uma política educacional formadora de mão-de–obra de péssima qualidade e de formação humana nenhuma. Não há no Brasil uma política de Estado voltada para a formação de mão de obra de boa qualidade e de cidadãos aptos para o exercício da democracia. Não há interesse em se formar cidadãos críticos neste país.
As classes dominantes já não são as únicas a irem para as universidades mas são as únicas a fazerem os doutoramentos e pós-doutoramento que é exigência de mercado hoje. E as coisas afinal de contas, continuam muito parecidas, atores mudaram, o cenário mudou, a roupagem mudou, mas em essência, tudo permanece o mesmo. Se antes as massas populares eram analfabetas porque não havia necessidade de alfabetização para o trabalho, hoje, se elas entram nas escolas, é porque o mercado assim o exige, no entanto que lhes seja ensinado apenas o suficiente para lhes retirar do analfabetismo, apenas para que possam mover a máquina pública, a burocracia, e ponto final. Passamos agora a criar o analfabeto funcional. Cidadania, ora isso é coisa para os ricos, para a classe média alta que nem mais se preocupa com o terceiro grau, mas sim com os doutoramentos e os outros pós.
Para a massa da população resta uma educação de última qualidade, resta uma educação entregue as traças, cuja finalidade é apenas retirar o individuo do analfabetismo para que possa servir aos interesses do capital e render muitos, muitos votos para os políticos. E enquanto isto, o país vai a deriva, como um barco a velas, solto na imensidão de um grande oceano.
E as perguntas que deixo são: mudou a visão que as elites brasileiras têm da educação tanto as de ontem quanto as de hoje? Mudou a sua visão de sociedade?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Para Meditar

Como viver sem parar por uns momentos durante o dia para podermos observar a nós mesmos?
Como viver sem sentir o coração pulsando, o movimento dos braços, das pernas; sem sentir o próprio ser que caminha pelo dia?
Como viver sem olhar para onde estamos indo? Para o que estamos fazendo? Sem reverenciar a nos mesmos e aos outros pelos desafios cotidianos que enfrentamos?
Como viver sem olhar para dentro a permitir que o vazio cresça dentro de nós e a presença do que é divino se faça sentir?
Como é possível viver apenas para o lado de fora sem buscarmos o necessário equilíbrio que é encontrado somente quando usamos nossa sensibilidade, nossa interioridade?
É no silêncio interior, que cresce quando paramos de correr e fechamos nossos olhos, que percebemos a grandeza das coisas, a sutil música da existência, a paz e a felicidade que tanto almejamos.
É no silenciar da mente que nos deparamos com a beleza das coisas que nos rodeiam porque, somente assim, temos a experiência direta do sentir sem as muralhas julgadoras do pensamento.
É no silenciar da mente que conseguimos compreender nossa própria existência, nossa razão de ser, nosso delírio, nosso propósito, a divindade que também reside em nós; a música celestial que recobre nosso planeta e a nós mesmos.
Sem silenciarmos a mente, mesmos que por uns poucos momentos, é impossível sentirmos o perdão, a sabedoria, a vocação inerente a todos os seres humanos para o amor.
Silenciar a mente, portanto, não é um luxo, uma atitude de elite, uma ociosidade ou um momento de devaneio, é uma necessidade do espírito que precisa ser ouvido em sua tão infinita beleza e sabedoria. Uma jóia que nos dá força, coragem, energia, discernimento e amor para o profundo ato que é viver.

Queimadas

Mais um Setembro se inicia
E mais uma vez se inicia também
A queima de minhas matas.

Por que me tratam assim?
Por que me despem de minhas verdes vestes de forma tão brutal?
Acaso ando eu a tratar tão mal meus filhos diletos?
Acaso lhes deixo sem água para matar vossa sede
Ou alimento para saciar vossa fome?

Vocês humanos são meus filhos diletos

A vocês dei não somente vida como aos outros animais
Mas também inteligência para melhor me conhecer
E extraírem tesouros que possuo escondidos
Em locais que só com sua inteligência podem ser alcançados

A vocês dei abundância de água, de terra e ar
E no entanto, vós, com suas mesquinhas iras, suas intestinas lutas
De seres humanos imaturos, tocam fogo em minhas verdes camadas
Que ressecam minha pele, matam animais, destroem rios, acabam
Com a diversidade da vida e poluem o ar

O que querem vocês?

Alguém, alhures, já disse que fazer mal a terra
É fazer mal aos filhos da terra
E todos vocês são meus filhos
Vieram de minhas entranhas e para lá hão de voltar.

Por que maltratam a mim e a seus irmãos irracionais?
Acaso não me reconheceis como sua mãe?
Acaso não reconheceis os outros animais como vossos irmãos?
Quando os gerei com sua inteligência
Pensei no melhor
Pensei no mais belo de minha criação
Pensei no apogeu de minha criatividade
Mas não pensei que esta poderia ser também
A minha própria destruição e de todos os filhos outros que gerei

Sei que tentei o belo, sei que tentei o bom
No entanto, não foi o suficiente
Não foi o bastante lhes dar a inteligência
Era preciso sobretudo lhes dar a sabedoria e o amor
Que ficou escondido em algum lugar
Guardado no fundo de seu imaturo peito

E por isto, vendo hoje os Setembros chegarem, vendo os Outubros e
Os outros meses quentes chegarem, olho para meus outros tantos
Filhos mortos e feridos por seu insano ato
De queimar minhas verdes coberturas, e lhes peço perdão

Às vezes por ter criado vocês humanos,
Às vezes por ter esquecido de lhes colocar
Um pouco mais de amor no coração

Sei que foi por pouco, sei que foi por um triz
O amor apenas não ficou a vista de vocês
Pensei que com a grande inteligência que lhes provi
Vocês o encontrassem

Mas como dói meu erro

E agora sou obrigada a dizer:

Filhos, como mãe, como terra,
Como senhora de toda a criação deste planeta
Se quiserdes continuar a existir cá em mim,
Pensem no que estão a fazer
Reflitam sobre a destruição que provocais e usem um pouco mais
Aquilo que de bom coração deixei a vocês:

A inteligência.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Eu não sou o único

Eu não sou o único que busca plantar flores por onde passa!
Eu não sou o único que busca na alegria, na celebração e no amor, uma nova forma de partilhar a existência!
E eu não sou o único que percebe o planeta terra como um todo orgânico, integrado, como uma entidade viva que pulsa junto com tudo que existe nele!

Não, são milhões de pessoas que assim pensam, cada um com seu jeito, com seu sistema de crenças, melhorar a vida e lutar por um planeta mais irmão.

Enganam-se aqueles que se sentem saudosos dos tempos idos, como se tivesse havido na terra um tempo onde as pessoas vivessem na mais plena harmonia. Não! A história nos ensina que a terra sempre foi palco das mais sangrentas lutas de homens contra homens.

A natureza sempre nos impôs uma luta árdua pela sobrevivência e esta implicava na visão de milhares de gerações anteriores, na dominação de etnias sobre etnias, de homens sobre homens.

O que se pode dizer é que nossa historia foi uma história com alguns momentos de paz. Sobretudo no século XX.

No entanto, este famigerado século que foi palco de dois dos mais tenebrosos momentos de nossa história, a I e II guerra mundial, abriu-nos também grandes possibilidades: o horror da guerra gerou uma mentalidade de paz, gerou uma ciência universalista e aproximou nossa percepção daquilo que é divino em nós.

Neste século, aprendemos a superar enormes tensões que poderiam ter nos conduzido a uma catástrofe final; geramos uma quantidade de alimentos impossível de pensar sem a ajuda da tecnologia e da ciência juntas e aprimoramos nossa relação com a terra e com os seus outros habitantes com a formulação de propostas de economia solidária, ecovilages, sustentabilidade, etc...

O ser humano tornou-se mais místico e o auto-conhecimento, última grande fronteira do conhecimento, é buscado cada vez mais através de práticas de meditação, yoga e outras vertentes que buscam o conhecimento de si.

A paz enfim, tornou-se uma possibilidade real. O mundo unificou-se e a multiculturalidade passou a ser fonte de enriquecimento material e imaterial para os diversos povos espalhados pelo nosso planeta e não mais motivo de guerra.

É claro que muitos, ainda assentados em posturas atávicas; aqueles que não percebem a nova ordem mundial que se instalou exigindo uma nova postura frente a vida, insistem em manter-se rígidos e infelizes, infelicitando a vida de tantos outros. É claro que muitos ainda não perceberam que o novo paradigma é o da solidariedade, da sociabilidade, da comunidade.

Mas como disse anteriormente, é no hoje que reside a possibilidade de paz real e de transformação interior e milhões já se aperceberam disso e milhões são os que por onde passam plantam flores e alegrias.
E você? Está plantando flores e dançando alegrias por onde passa?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O buscador

Porque o buscador pode dançar e pode voar.
Porque ele é espaço, terra e ar.
Porque está muito além da mente, muito além das análises das conjecturas e das estruturas.
Porque é Deus e está em todas as coisas e todas as coisas estão contidas nele.

Portanto, não tentes compreender o buscador com tua mente mundana, mas tente senti-lo com o teu coração puro.

Tua razão é material e somente coisas materiais a ela é cabível compreender.

Como podes compreender ao buscador que é energia, universo, éter, inacessível à tua razão material?

Como poder querer que o buscador haja segundo os padrões de tua estreita conduta e visão, se onde ele habita não existem padrões de comportamento, mas apenas consciência e dança?

Como podes compreender a ele que nunca morre e está para muito além dos limites de tua finita vida?

Somente quando vires o buscador no esplendor de seu próprio sol é que compreenderás o que digo; somente então perceberás o estranho que é a tua pequena razão humana querer a ele compreender: o próprio sol.

E tu, apenas quando chegares ao buscador poderás compreender, porque aí, já não serás tu, mas também o sol, também a terra, também raízes, também o próprio buscador. Serás ele e assim compreenderás a ti mesmo porque serás Deus e uno com o universo e toda a grandeza da criação.

sábado, 14 de agosto de 2010

Página em Branco

Quando olho para uma folha em branco, penso logo em como preenchê-la. O que escrever nela? Como mostrá-la a outros revestida com nova roupagem, com um dado significado?

Olho para a página e sinto que ela tem uma mensagem interna, que já nasce predisposta a certo tipo de texto. Pode ser um texto afetivo ou científico, um texto pedagógico ou literário, um poema ou uma carta. Uma crônica ou um conto. Talvez um romance ou quem sabe a letra de uma melodia ou até mesmo uma receita fundamental abridora de tantos apetites.

Uma página em branco desperta em mim ação a realizar, é preciso dar-lhe sentido, significado histórico, fazê-la cumprir seu desconhecido destino. Abrir-lhe o o coração, despertá-la para o mundo.

O fato é que definitivamente a folha em branco não nasceu para ser rasgada ou jogada no lixo. Não nasceu imprestável para o ato de cobri-la de letras com tantas mensagens que poderia ter.

Não!

Ela tem uma missão, precisa ter um significado social, dar sua mensagem, por menor que seja, ser luz para tantos, pois os textos nela gravados podem iluminar uma consciência ou talvez um sorriso para um rosto pálido.

Uma página em branco é como uma criança sobre a qual os adultos gravam em sua memória experiências que as marcarão para o resto de suas vidas.

Como nas páginas em branco, gravemos então na memória de nossas crianças experiências positivas, experiências que lhes digam que verdadeiramente vale a pena viver este mundo. Experiências que as preencham de luz e beleza. Essa é uma das tantas ações possíveis que irá deixar o mundo cada vez melhor.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nossos amigos

Ah se pudesse agora erguer uma taça de vinho da melhor qualidade para brindar com todos os amigos que estiveram próximos a mim. Brindaria a todos eles pelo que me fizeram viver até aqui.
Lembro tantas belezas, tantos sonhos sonhados juntos, tantas brigas e debates. Noites soturnas, indo de um lado a outro em busca de algo que saciasse nossa sede por respostas.
Almas que viviam ao relento, buscando a si mesmas, costurando, pontilhando pensamentos, respostas, dúvidas. Tantas entradas nas madrugadas embriagadas de questionamentos. Sonhos de um mundo poético-musical aberto e livre dos entraves das bandeiras que ousam cercear nosso caminhar. Encontros furtivos para conspirar sobre os novos passos do mundo.
A todos, sem exceção, brindo pela maravilhosa permissão que me deram de passar por suas vidas, permitindo conhecê-los e aprender com cada um de vocês.
Luzes das estrelas são todos os que me trouxeram experiências, sabedoria, vida intensa aprendida com muito prazer e alguma dor.
Brindo ao que me ensinaram sobre o relacionar-se, sobre a poesia, sobre a música, sobre o vento e sobretudo sobre o amor.
Cada aventura, cada entrada nos esconderijos secretos de cada um, cada porrada levada na cara para afiar o peito.
Meus amigos, todos que por mim passaram, são flores de primavera que desafiaram o inverno rigoroso indo fundo no coração de nosso tempo, vivido em graça, elegância e coragem. Muita coragem.
Brindo a todos, e que dos céus desçam nuvens cada vez mais leves sobre nossos peitos eternamente juvenis que buscam sempre entender as maravilhosas perguntas que sempre nortearam nossas vidas tão emocionantemente vividas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A dificil arte de meditar

São muitas as pessoas que dizem não conseguir meditar; dizem que não vêem nada; não ouvem nada; não presenciam nada mais senão uma grande confusão, um grande caos no interior; que a mente se torna mais e mais ativa e a ansiedade toma conta da alma. Quando fecham os olhos uma profusão de pensamentos invade o cérebro deixando o corpo inquieto e insatisfeito.

E este é um dos grandes problemas para aqueles que dizem querer aprender a meditar ou que tem necessidade de meditar.

A idéia que fazem da prática da meditação é que ao fechar os olhos da primeira vez, vão entrar em um outro mundo, vão conhecer a si mesmos, torna-se diferentes, mais tranqüilos e mais centrados, que vão entrar no paraíso e relaxar o corpo esgotado das tensões diárias.

E na verdade vão encontrar tudo isso.... E muito mais.

Vão encontrar mais tranqüilidade e paz de espírito. Mas antes vão ter que passar por certas provas que em primeiro lugar é sua própria persistência com relação ao trabalho meditativo que desenvolvem, e em segundo se permitir sentir as novas energias que começam a brotar em sua consciência trazendo compreensão sobre si mesmos, o que deverá facultar, a quem pratica meditação, o direito de desconstruir tudo o que foi construído ao longo dos anos, para nascer uma nova pessoa.

E o que é desconstruir a si mesmo?

Em primeiro lugar é deixar de ter ansiedade sobre a nova prática que realiza deixando as expectativas de lado, e segundo, acreditar que o que está fazendo através da prática da meditação é um trabalho de interiorização, um trabalho alquímico em si mesmo. O mais importante é quebrar com verdades cristalizadas, deixar os julgamentos de lado e apenas observar o que se passa no interior.

E essa é a mais difícil tarefa: deixar de julgar a cerca da experiência antes de vivenciá-la.

É como não formular juízos sobre o novo prato que está a nossa frente somente por causa de sua aparência.

Quando isso acontece, quando nos permitimos vivenciar essa nova experiência livre de pré-julgamentos, quando simplesmente olhamos com olhos frescos essa nova prática que estamos vivenciando, um novo mundo se apresenta, uma nova forma de olhar a vida se apresenta e os olhos passam a ver um mundo de possibilidades.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A lila de deus

Para os Hindus, a vida é feita de uma matéria chamada alegria, chamada de a Lila de Deus. Para eles, tudo brinca no universo. Tudo são sons de alegria e vida. As borboletas que giram no ar brindando à criação universal, os pássaros cantando, as árvores bailando ao vento, as estrelas cintilando, as nuvens esvoaçando e toda criação festejam a vida ao doce som de uma flauta.

E nós seres humanos? Festejamos também a vida? Nós, tidos como o pico da criatividade universal, estamos celebrando a vida?

Sim, festejamos. Nossas festas religiosas, nossas festas sazonais, nossas festas de aniversário, nossas comemorações esportivas, etc, demonstram isso.

No entanto, ainda não aprendemos a festejar, a nos alegrar pelo simples fato de estarmos vivos, apreciando e partilhando este fabuloso espetáculo chamado vida. Ainda não festejamos sem motivo algum aparente este espetáculo. Ainda precisamos de motivos exteriores a nós mesmos para sentirmos a alegria ou felicidade, ainda precisamos alterar nosso estado de consciência nos utilizando de bebidas alcoólicas ou outras drogas para alcançarmos o prazer de viver. Ainda é rude nossa forma de celebrar a vida a ponto dessa celebração muitas vezes se situar bem na fronteira da dor.

A alegria sutil, a alegria meditativa, a alegria que vem de dentro de nós mesmos, aquela que não possui procedência definida, aquela alegria que está em nós e que repentinamente nos toca sem motivo algum, mas pelo simples fato de existir dentro de nós, esta alegria inerente aos pássaros que cantam para festejar a existência ou das flores que simplesmente exalam seu perfume para ninguém em especial, a alegria das nuvens que brincam nos céus ou de um bebe que simplesmente sorri para a vida sem nada pedir em troca; essa alegria inocente que simplesmente brota de nenhum lugar definido é que precisamos deixar florescer dentro de nós espontaneamente como forma de agradecimento pela existência.

A alegria que chega de um estado de consciência meditativa, que parte de dentro para fora, que chega devido ao deslumbramento pelo que existe, esta alegria que existe sem motivo algum ainda precisamos aprender a vivenciar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Uma oportunidade para mudar

Por paradoxal que seja estamos passando por um momento muito instrutivo neste nosso Brasil. Enquanto são denunciados centenas de casos de corrupção ativa e passiva em todas as esferas da vida política e social do país, a população, pasmada, vai tendo seu aprendizado e vendo o quanto é necessário estar alerta para não se ver roubado por aquilo que se convencionou chamar de “esperteza brasileira”ou “jeitinho brasileiro” tido mesmo como característica de nosso povo.
Já o ex-antropólogo, ex-senador da república e ex-indigenista Darci Ribeiro, nos falava da tendência histórica dos donos do poder no Brasil, em misturar as esferas pública e privada desde os tempos da colonização.
Os Capitães Donatários tinham do país, uma idéia de ser este seu próprio quintal e como eram chefes políticos, também eram os donos da máquina administrativa montada para gerir o país. Disto derivou o “apadrinhamento político”; os aliados que do Estado tudo receberiam em troca da lealdade em todos os sentidos.
Este atavismo se encontra até hoje espalhado por todo o país, mas, sobretudo, no nordeste brasileiro, onde mais se arraigou o chamado coronelismo, prática espúria e peçonhenta, devido ao abandono a que esta região se viu submetida desde quando o açúcar deixou de ser a principal fonte de renda do Estado.
Espalhou-se por todas as camadas sociais esta prática que deforma o caráter desde o guarda de transito até os mais altos cargos da república com a prática do “molha minha mão” que eu faço.
A população vê estupefata a onda corrupta acontecendo neste momento no país e eu rezo para que sinceramente a apatia a que foi lançada desde o golpe militar de 1964 e particularmente os jovens que tiveram na qualidade de sua educação a mais brutal despolitização, estejam realmente absorvendo os ensinamentos e aprendam a se indignar contra esta tão melancólica prática brasileira.
Não há mais possibilidade hoje, de vivermos em um mundo globalizado tendo posturas que correspondam a séculos passados. O mundo mudou, a população cresceu muito, o problema da fome e do meio ambiente se agravaram por mil vezes e não é tendo práticas concernentes a épocas pretéritas que resolveremos as questões que afligem a humanidade dos dias que correm. Ou nós nos transformamos interiormente, mudando o nosso foco de observação da vida, ou as chances de sobrevivência da raça humana será nula. .

terça-feira, 15 de junho de 2010

Amar o lugar onde vivemos como a nós mesmos

É preciso olhar o lugar onde moramos com os olhos do amor; olhar que sai do mais fundo de nosso coração.
Normalmente olhamos o lugar onde vivemos com os olhos da “carteira”, do “bolso”, da economia, das estatísticas, da ambição, daquilo que o lugar possa oferecer e não naquilo que podemos oferecer ao lugar, no que podemos fazer para torná-lo mais bonito e melhor para viver, e isto retira nossa capacidade de enxergar a beleza que reina nesses lugares.
Esta atitude nos afasta da natureza, nos impede de perceber a teia de relações existenciais que nos cerca. Isolamo-nos, alienamo-nos do meio ambiente e vivemos apenas a teia das relações sociais.
Acontece que essa visão é estreita, cativa, porque não percebe que nossa existência enquanto humanidade não se esgota em nós mesmos. Muito pelo contrário, a cada dia aprofundamos nossa dependência dos reinos animal, vegetal e mineral porque a produção das coisas que tanto desejamos enquanto agentes sociais consumidores provem da matéria prima desses reinos. Só que nossa alienação do processo produtivo é de tal monta que não conseguimos enxergar nas coisas que compramos sua origem.
De onde provem tal ou qual objeto? Como foi produzido? O que foi necessário fazer para tal ou qual produto chegar às nossas mãos?
Essas perguntas não ecoam em nossas consciências porque nos acostumamos aos produtos finais. Não nos interessa de onde ou como foi produzido, o que importa é que esteja em mãos. Não importa o que foi preciso fazer para que o produto esteja a minha disposição. Não importa como foi extraída da natureza a matéria prima para fazer o que tenho em mãos, não importa o desgaste ou o sofrimento que causou, o que importa é minha satisfação fugaz.
Não mais construímos nossos brinquedos, não fazemos nossa comida, não construímos nossa casa e nem nossa cidade. Não temos mais vínculos com o processo de criação mas tão somente com o objeto final que logo se transformará em lixo.
O vinculo com as coisas se estabelece quando temos consciência de seu processo de produção. Como ele é feito? Assim também se dá com relação ao amor que podemos ter com as cidades onde moramos. Como ela surgiu? De onde vieram seus fundadores? Qual sua história? São perguntas que criam vínculos, criam respeito e abrem as portas da percepção para ver melhor a maneira como podemos melhorar o espaço da cidade onde habitamos. Olhar com olhos amorosos e profundos o lugar onde vivemos observando a teia de relações que estabelecemos com a vida fora de nós é um processo de desalienação e transformador para com nossa cidade e para conosco mesmo.
Pense nisso!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fragmento do livro "A Iniciação Diário de uma Viagem à Índia" de Dhyan Firdauz

“...Havia quatro covas e em uma delas se depositou madeira seca, sobre a qual colocaram o estrado com o corpo, cobrindo-o em seguida com mais lenha seca de maneira que ficou totalmente coberto. Um combustível foi derramado e um palito de fósforo foi riscado e lançado sobre a madeira. O fogo foi aceso. Nesse momento se fez um grande silêncio. Uma imensa chama subiu e o fogo passou a arder devorando aquela madeira e consumindo aquele corpo. O cheiro quase imperceptível de carne sendo cremada era levado pelo vento em direção ao rio, enquanto familiares, amigos e centenas de sannyasins recomeçavam a cantar e dançar ao som daquele ritmo frenético tocado pelos músicos, festejando a passagem do ente querido para um novo estágio da vida, talvez mais próximo de Deus.
O cansaço foi tomando conta de todos e lentamente começaram a se retirar seguindo cada qual a sua direção, até que por fim a música cessou por completo e todos se foram. Eram por volta das 17h30min daquela estranha tarde quando também me retirei do local indo em direção ao meu quarto. O fogo ainda consumia toda aquela lenha e o corpo da sannyasin. Fagulhas subiam em direção ao céu e pássaros sobrevoavam o rio. A praça agora estava deserta e nada mais restava a não ser uma fogueira consumida para bem mais da metade.
No caminho para meu quarto fui pensando na beleza daquele ritual de despedida feito por aquele povo; fui pensando na brevidade da vida aqui na terra e na imortalidade da alma. O mundo ocidental valoriza enormemente o que é perecível e superficial e esquece-se do que é permanente e essencial.
No dia seguinte pela manhã voltei ao local e cinzas ainda quentes denunciavam a cremação do corpo do dia anterior.”

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Nós, vendedores

Existem no mundo, vendedores de produtos de toda ordem. Por exemplo, existem os vendedores de cosméticos ou os vendedores de armas, o vendedor de roupas ou o de sapatos; existem os vendedores de sonhos ou ilusões lançadas a esmo no ar. Existem os vendedores de drogas de toda ordem, cigarros, café, ou açúcar; cocaína, maconha ou álcool. Existem até os vendedores de luares nos encantadores saraus.

Existem os vendedores de angústia que pregam as vaidades impossíveis ou os amores eternos. Existem os que vendem os tons e os dons de nossa época tão rápida que logo dão passagem para outros que passam muito rápido também. Existem os vendedores de alma que a entregam por qualquer ninharia oferecida na vã esperança de conseguir felicidade. Existem os vendedores de tudo porque tudo é passível de compra, de venda ou de troca.

O fato é que corre no sangue da humanidade a compra e a venda, a troca, porque é do gênero humano o relacionar-se.

Eu, no entanto, me coloco como um vendedor de felicidade. A felicidade de estar aqui, de ser daqui, e de poder, vez ou outra, desprender-me de mim mesmo e voar por ares nunca dantes navegados; felicidade de me saber eterno a me buscar, experimentar ser humano.

Coloco-me como vendedor de felicidade por poder fechar os olhos e tocar na luz que fica lá nas camadas mais profundas de mim mesmo e rejuvenescer; por poder ir e voltar a qualquer lugar porque lá ficou uma paixão, ficou uma dúvida e, sobretudo, porque nasceram perguntas. Sou vendedor de felicidade porque a reconheço vivendo de mãos dadas com meu coração. Reconheço-a aqui e agora e sei das várias faces que possuem e sei também que todas são felicidade. Vendo a possibilidade de simplesmente sentar, fechar os olhos e nada fazer a não ser sentir o puro deleite que é o de me saber gente que sou.

domingo, 30 de maio de 2010

INTERIORIDADE

Normalmente temos medo de estar sozinhos, em silêncio, contemplando nossa interioridade. O que há lá dentro? Qual a extensão dessa interioridade, desse vazio?
Temos medo de descobrir o fabuloso mundo onde o prazer reside em se contemplar o vazio, em se deleitar com a própria essência do ser.
Vivemos como se existíssemos apenas para o mundo do trabalho, para o mundo social, esforçando-nos para aparecer melhor diante do outro. Estamos 24 horas nos relacionando com o outro - inclusive nos sonhos - direcionando nossa energia para a mente a fim de resolvermos os milhares de problemas que nos mesmos criamos.
“Nunca tenha um gato”, disse o mestre ao seu discípulo em seu leito de morte.
Uma pessoa que não possui centramento faz daquilo que possui, mesmo que seja um simples gato, não um prazer, mas um problema para poder manter a mente continuamente ocupada.
Preocupação é uma característica do ser humano moderno. Fazer; estar ocupado; não ter tempo; são palavras-chave para quem quer entender o ser humano moderno. E todos os que se recusam a acompanhar o ritmo frenético deste mundo são chamados de preguiçosos. Não ter tempo para si, não parar um pouquinho para dirigir-se para dentro é um estado muito apreciado hoje e significa estar muito bem; bem de acordo com o padrão ditado pelo conceito de bem-estar moderno. Assim mostra-se que se é uma pessoa muito requisitada.
O que existe por traz do ser humano social? O que acontece quando o sentar silencioso transforma-se em meditação? Um mundo novo se abre, o futuro deixa de preocupar e o passado deixa de existir e as questões do hoje, do agora, são o nosso único foco de atenção.
Temos medo do futuro. Temos medo do que virá. Exatamente igual ao ser humano primitivo que tinha medo das forças da natureza. Não temos confiança naquilo que desenvolvemos hoje, ainda não compreendemos que o futuro é fruto de nossa ação agora. O medo do futuro nos atormenta e isso afeta nossas relações sociais, afinal, o outro é meu concorrente e eu preciso estar sempre um passo a sua frente.
Dentro de uma roupa elegante, debaixo de um chapéu bonito, atrás de um óculos escuro e moderno pode existir um ser humano completamente desconhecido de si mesmo, um ser humano que nunca se tocou com profundidade, um ser humano que nunca ouviu seu próprio coração e nunca se permitiu admirar a própria desconhecida presença. O ser humano “irreal” precisa tocar a própria realidade e chorar de alegria por isso. .

sábado, 15 de maio de 2010

Mente e meditação

Largar hábitos enraizados, costumes encarnados já a décadas ou mesmo há gerações, por pior que sejam, exige um esforço grande, uma vontade férrea.

É fácil criticar, diz o ditado popular, difícil é se autocriticar, ver a si mesmo avaliar-se na prática diária com o intuito de mudar para melhor.

O simples ato de chegar a um compromisso no horário marcado é difícil para muitas pessoas. Efetivar compromissos até consigo mesmo, como deixar de comer uma barra de chocolate ou batatas fritas é tarefa árdua para alguns. O que dizer então, por exemplo, de querer levar vantagem em tudo que faz; em mentir constantemente; em comer mais que o necessário; em ter mais que o suficiente; em roubar o dinheiro público que está ali em sua frente; etc?

É difícil ser honesto consigo mesmo quando existe todo um contexto global formando mentes dentro de padrões tão mesquinhos e desonestos.

Somos ensinados a pensar que este fenômeno social chamado mente é nossa essência, que nos somos aquilo que pensamos, e isso não é verdade. Nós somos muito mais do que nossas mentes.

No trabalho meditativo, aprendemos que a mente é formada dentro de um contexto social específico e que nossa essência está muito mais além e não necessita de mentiras, de desonestidades, de falsidades.

Aprendemos que temos um cérebro e este cérebro desenvolve uma mente que é um conjunto valores, de pensamentos, de padrões comportamentais segundo o contexto em que nasce o sujeito; ou seja, enquanto o cérebro é um órgão que tem origem no desenvolvimento biológico humano, a mente é produto cultural.

Todos nós somos portadores de um cérebro com as mesmas possibilidades, mas cada cérebro desenvolve uma mente que funciona segundo padrões ditados pelos costumes, pelas normas etc, e com a qual nos identificamos de tal forma que pensamos ser estes padrões e agimos de acordo a esses padrões. Ou seja, a liberdade que tanto acreditamos possuir e é símbolo da chamada democracia ocidental, não passa de um grande engodo já que nossa ação é resultante de uma mente que existe premida entre os costumes e a moral vigente.

No trabalho meditativo, aprendemos que estar em meditação é estar além do ontem e do amanhã, é estar no momento presente, pronto para uma ação efetivamente consciente, sem manipulações de uma mente carregada de memórias que em nada nos ajudam a viver o hoje.
Firdauz

quinta-feira, 13 de maio de 2010

TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO DE FIRDAUZ:ELIAS EM A FÁBULA DO CASTELO

-"0 homem vive no mundo da dúvida, no mun¬do do meio. Ele não é nem animal nem santo, não está nem aqui na terra, nem lá no céu. Vive perdido entre os mundos do espírito e da matéria e por isto não consegue ter paz e ser feliz. E somente aqueles que ultrapassaram esta dúvida é que alcançam a paz. Mas comumente, quando alguns encontram a resposta, os outros homens não suportando a descoberta o matam e o exilam de seu meio ou os chamam de santos ou loucos e criam uma lenda sobre eles". Elias o interrompeu mais uma vez e per¬guntou:
-Mas por que eles fazem isto se você mesmo disse que a busca da verdade é parte principal de sua própria história de vida?"
E o vento respondeu:
- É porque eles usam o horrível véu negro da ignorância por sobre a cabeça, que lhes encobre a visão e os impede o advento da sabedoria. Aque¬les que ousam retirar este véu tornam-se uma ame¬aça porque mostram que é possível retirar o véu e viver com sabedoria. Infelizmente, o ser humano ha¬bituou-se a viver na miséria da ignorância".
Naquele dia Elias deixou-se ficar muito pensati¬vo depois do vento partir. Ainda o vi por muitas ho¬ras sob o velho carvalho a refletir sobre as palavras do vento. Depois adormeceu e sonhou ser um ca¬ranguejo. Um caranguejo que numa noite de luar saiu de sua casa na lama para reverenciar a dama da noite, quando duas mãos fortes o agarraram. Ele lutou, abriu suas garras, as quais considerava muito fortes, para ferir o inimigo, mas este o imobilizou e o jogou em um paneiro feito de vime, cheio de outros caranguejos. Sentiu-se preso e acordou lutando para se desvencilhar daquela prisão. Foi a primeira sensação de medo que teve.

sábado, 8 de maio de 2010

Por que poesia em tempos de indigência?

Nos dicionários encontramos a palavra indigência significando pobreza, carência, falta do mínimo necessário à sobrevivência, sempre numa referência a não satisfação das necessidades básicas do corpo. No entanto, a pergunta acima, me leva a uma reflexão que vai além destas afirmativas dicionárias. A indigência de que o homem padece hoje e talvez sempre tenha padecido é também de cunho emocional/espiritual, é indigência de si mesmo, de carinho e de compaixão para consigo mesmo. É a indigência dos tempos míticos desde nossa expulsão do paraíso.
Em minha visão, no entanto, nós nunca estivemos tão próximos como agora, de uma mudança mais radical do que a que se avizinha, como uma possível volta ao reino paradisíaco perdido.
Sabemos que, tecnicamente, a fome não é mais compatível com o mundo contemporâneo e que a produção de alimentos mundial é mais que suficiente para matar a fome de todos os habitantes de nosso planeta. Então, por que ainda existir este flagelo que mata milhões de pessoas? Por que nós, agora imbuídos de conhecimentos científicos, não resolvemos muitos dos problemas com soluções óbvias, que afligem a humanidade como um todo, inclusive pondo em perigo a própria sobrevivência do planeta?
A resposta é clara. Ela está na necessidade urgente de uma mudança comportamental do ser humano. Uma mudança nos nossos valores, nos nossos hábitos, na nossa capacidade de “enxergar” o mundo como uma entidade viva da qual fazemos parte apenas como uma teia de infinitas relações de interdependência e que ao quebrarmos esta teia, afetamos todo este equilíbrio vivo. Ou seja, estamos agindo de forma tal que desequilibramos a rede da vida pondo em perigo toda a terra.
Uma mudança de valores portanto se faz necessário. Uma mudança espiritual se faz urgente.
E aí entra a importância da poesia nestes tempos de indigência pelos quais passamos, porque é palavra transformada em emoção, em experiência existencial/estética. Uma frase bem escrita, uma reflexão transparente e aberta nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos a partir de nossa própria vivência. Olhar o mundo com emoção, emocionar-se com um pôr-do-sol ou um nascer-do-sol, com um olhar de uma criança, com o desabrochar de uma rosa é poesia. Perceber a vida como uma cadeia de aconteceres e imaginar-se nesta cadeia, como parte integrante da dança do universo é poesia também. Olhar para o interior de nós mesmos e percebermos a mágica composição de nossa constituição é a poesia da vida. Poder olhar a vida e estaziar-se com sua elegância e beleza é impossibilitar-nos agir contrariamente as leis naturais e mudarmos nossos comportamentos agressivos, anti-sociais e antiéticos. Olhar a vida, portanto, como o poeta olha a palavra, é condição fundamental para que transformemos este planeta num lugar mais habitável, mais humano e mais bonito de se viver. A poesia na verdade, é a nossa essência, é o que unifica todos os povos, nosso bem comum.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Medicina se rende a prática da meditação

Ministério da Saúde baixou portaria incentivando postos de saúde e hospitais a oferecer a técnica em todo o País
“A agência do governo dos EUA responsável pelas pesquisas médicas (NIH, na sigla em inglês) reconheceu formalmente a meditação como prática terapêutica que pode ser associada à medicina convencional. O Ministério da Saúde brasileiro baixou uma portaria em que incentiva postos de saúde e hospitais públicos a oferecer a meditação em todo o País.
Essas ações governamentais são sinais da tendência de encarar a meditação não simplesmente como prática de bem-estar, que faz bem apenas à mente e ao espírito. Parar diariamente alguns minutos para se concentrar e se desligar do turbilhão de pensamentos que ocupam constantemente a cabeça também ajuda a manter a saúde física.
“A meditação é diferente da medicina convencional porque quem cuida de você não é o médico. É você mesmo", explica a médica anestesista Kátia Silva, que coordena as atividades de meditação no Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. Na cidade, 70% dos postos de saúde oferecem atividades da chamada medicina tradicional, que inclui acupuntura, tai chi chuan e meditação.
Relativamente recentes, as pesquisas começaram nos anos 70. Uma pesquisa com a palavra meditação no acervo online da Biblioteca Nacional de Medicina, do governo americano, traz 1.400 estudos científicos.
Entre outros benefícios, meditar previne e combate a depressão, a hipertensão arterial, a dor crônica, a insônia, a ansiedade e os sintomas da síndrome pré-menstrual, além de ajudar a reduzir a dependência de drogas.
Esses estudos mostram que a meditação reduz o metabolismo - os batimentos cardíacos e a respiração ficam mais lentos e o consumo de oxigênio pelas células cai. É isso que dá a sensação de relaxamento e tranqüilidade.
As mesmas pesquisas sugerem que prática também interfere no funcionamento do sistema nervoso autônomo, que é responsável, por exemplo, pela liberação dos hormônios noradrenalina e cortisol durante os momentos de stress. Em quem medita, a duração dessas "reações de alarme" são mais curtas. Dessa forma, a pressão do sangue e a força de contração do coração ficam alteradas por pouco tempo, comprometendo menos a saúde..”

É cada vez mais comum ler textos com teor semelhante. Embora a matéria acima peque no que diz respeito ao conhecimento acerca do que é meditação ( grifei a palavra concentração para lembrar que concentrar não é meditar, como erra ao dizer, o autor do texto), nos mostra o quanto hoje a prática da meditação se dissemina no mundo.
Quando se estabelece essa prática cotidianamente, nossa vida se altera, a percepção atinge índices mais elevados e a qualidade de nossas vidas melhora. E não há nenhuma mágica nisso. O que ocorre é que ao nos tornarmos mais conscientes, ao nos percebermos mais, ao atentarmos mais para nós mesmos, e essa é uma meta da meditação, naturalmente passamos a maravilhar-nos com os vários aconteceres de nossa vida, mesmo com os mais simples fatos como acordar ou escovar os dentes. Passamos a ser observadores conscientes das tarefas que executamos cotidianamente e vamos vendo o quanto elas são positivas ou negativas para nós.
A prática da meditação nos conduz a presença constante de nós mesmos. Nos conduz ao testemunhar de nós mesmos e é isso que nos traz consciência.
A matéria acima é apenas um reforço quanto a intensa campanha que mobilizamos para que mais e mais pessoas se interessem pela meditação e passem a usufruir deste maravilhoso ato de ir tornando-se mais cônscio de si mesmo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Não tenho tempo

Não há tempo
Não existe tempo
Estou sempre indo...

E vindo...

Correndo atrás...
Do meu medo
Do que fazer
Do que ter
Pra não pensar
Pra não olhar o coração...vazio.

Corro as pressas
Atrás do carro
Da casa
Do que comer
Dos filhos
E nunca sei onde eles estão

Não tenho tempo
Nem descanso

Não vejo o céu
De que cor é ele mesmo?
E o sol?
As paisagens das nuvens?
O luar?
Como ele é?

Quais são os brinquedos das crianças?
De que eles gostam?

Não tenho tempo de olhar
Meu olhar partiu um dia
Não sei pra onde se foi
Evaporou-se no cotidiano
Corriqueiro de meu todo dia

Nem vejo o dia passar
Apenas sei que é noite
Porque tenho que a porta trancar
Acender as luzes
E me deitar

Não vi nada
Não senti nada
O dia passou
A vida passou
E eu...
Não vi a vida passar

E ela passou...
Não tive tempo

Não tive tempo de sair
Andar, viajar
A correria do dia não deixou
Não deu pra sorrir
A não ser das poucas coisas
Dos amigos do trabalho

Mas não deu tempo de ver seus olhos
O brilho de luz que tinham na alma

Não peguei na terra
Não sujei as mãos
Nem plantei uma árvore

Não experimentei algodão doce
Nem comida vegetariana
Não fiz meditação
Nem dancei as lindas canções que queria dançar

Não cantei
E muito pouco amei

Não tive tempo
A vida sempre por um triz

Não havia tempo
Não houve tempo
Não haverá tempo

E no entanto...

Tanto tempo há
Eu é que não vi

A vida passar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

PRATICANDO A MEDITAÇÃO

Muitas pessoas gostariam de praticar meditação mas não sabem por onde começar. Ouviram falar por exemplo que a prática desta atividade faz muito bem ao espírito e a vida pessoal, que traz tranqüilidade, autoconhecimento e saúde psíquica. Ficam se imaginando meditando, tornando-se mais espirituais, mais tranqüilos, melhores.

Mas ai vem uma pergunta: como meditar? o que fazer para colocar o pé na estrada e praticar? Será que é apenas ficar sentado em posição igual a que o mestre iluminado Buda ficava, - conhecida como posição de lótus - fechar os olhos e pronto? Só isto?

Pensando assim, ficamos a nos imaginar sentados de olhos fechados sem fazer nada, como se estivéssemos perdendo tempo –e tempo é dinheiro – e logo desistimos cansados desta imagem que não nos agrada.

Na verdade a meditação é a arte/ciência de buscar o silêncio interior. E para encontrar este silêncio pode-se e deve-se utilizar várias técnicas que foram criadas ao longo dos milênios, principalmente pelo povo oriental. Estas técnicas variaram muito ao longo dos tempos. Os yogues, os sufis, os zen budistas e vários mestres orientais como Buda, paramahansa Yogananda, Osho, etc, criaram muitas técnicas, para auxiliar as pessoas a se encontrarem através desta prática.

Portanto, a primeira coisa que se tem que saber é que ficar sentado em posição de lotus - a posição do Buda – é apenas uma das muitas centenas de técnicas de fazer meditação e segundo alguns, das mais difíceis.

Encontrar o silêncio interior requer prática e compromisso. Requer coragem para se auto-conhecer. Coragem porque pode ser encontrado muitas coisas bem no fundo de si mesmo que não gostaria ou que nem imaginava que estivesse ali, bem no inconsciente.

A prática inicial do meditador é o testemunhar. Qualquer tipo de técnica que você utilizar, utilize-a para ser um observador de si mesmo. Se a técnica que for usada for a de sentar-se na posição de lótus, sente-se e tente observar o pensamento, o que ocorre com ele, para onde ele vai, quais os pensamentos que vem a sua mente, etc. O importante é você conseguir ser uma testemunha de si mesmo, não se identificar com o próprio pensamento, deixá-lo vir e deixá-lo passar, ser testemunho consciente deste tráfego ininterrupto que é o nosso pensamento.

Pratique isto de início e você começará a sentir que aquela imagem que fazia do ato de meditar começará a mudar, começará a perceber sentido neste ato, e mais ainda, começará a perceber que você pode ser o senhor de seus pensamentos, senhor de seus atos e não mero joguete que vaga ao sabor de suas emoções, de seus pensamentos, de seus humores e passará a ter mais controle sobre si mesmo.

Comece por este caminho e você verá porque a meditação é hoje tão necessária para se ter uma vida mais equilibrada e feliz.

domingo, 4 de abril de 2010

A ERA DO PRAGMATISMO

Esta é a Era do pragmatismo. A Era da ação prática, qualquer que seja ela para se atingir os fins desejados. O que importa é viver o agora sem medir as conseqüências, sem sonhar ou ter projetos que visem o bem comum.
O importante é o ter agora, consumir o máximo possível, aproveitar, gozar a vida segundo certos padrões duvidosos espalhados a três por quatro pelos meios de comunicação. O importante é comer muito, é vestir o mais diferente e caro possível, é transar com mil homens ou mil mulheres e em situações as mais exóticas possíveis, é ter mansões e sonhar com o carro mais caro possível.
Não importa o outro! O que tenho eu haver com o outro? Cada qual vivendo sua vida como deve ser. Não me importa se o outro sente dor na alma ou no corpo, não me importa o outro, o que importa sou eu, esta ilha cercada de gente distante de mim por todos os lados. Todos são desconhecidos e meus concorrentes. Concorrem e querem meu emprego e minha mulher, o meu dinheiro e minha casa, o meu carro e até minha alegria. Tenho que viver em uma redoma de vidro para me proteger dos outros, meus dessemelhantes.
Esta é uma Era sem sonhos e sem esperanças, o fim de um paradigma, a morte de Shiva. Nas escolas nas ruas, nos campos, em todas as partes é o pragmatismo que domina, é a ação animal, desprovida de objetivos que não sejam eu próprio. A idéia neoliberal, a concorrência absoluta tomou conta de nossas mentes. O ideal é concorrer, é ver quem pode mais, é ver quem vai mais longe, é ver quem consegue mais. E diz-se que a competição, a concorrência faz parte da natureza do ser humano, como se alguém pudesse definir o humano, como se alguém pudesse dizer este é o ser humano.
Não, na verdade o ser humano é um eterno vir-a-ser, é um eterno projeto se autoconstruindo, mudando, transformando a si mesmo em seu processo de construção da vida. Já mudamos muito, experimentamos muito no correr de nossa história e continuamos experimentando. Este momento é apenas uma passagem, um momento nosso, um erro do qual devemos tirar aprendizados para não repeti-los no futuro, assim com tanto já erramos no passado.
Um dia, quando acordarmos, vamos ver que estávamos no caminho errado, que não somos uma ilha, mas sim uma rede de relações que se interconectam como se interconectam os fios invisíveis da Internet, vamos ver que somos dependentes uns dos outros, que fazemos parte de um mesmo universo de colaborações mútuas. Vamos perceber que não podemos viver sozinhos, que os animais, os vegetais e os minerais são parte de nossa estrutura físico-molecular e que neles estão contidos os mistérios necessários a nossa saúde psíquica e física e vamos perceber que a vida é constante transformação e que a nós foi dado o dom de perceber essas transformações. Há que chegar o momento de percebermos que nós temos o privilégio de ser o elo de ligação entre as coisas do céu e da terra, que a nós foi dado raízes e asas, e que nos cabe cuidar amorosamente desse pequeno pedaço de terra que gira infinitamente no espaço sideral.
Um dia nós vamos acordar. Eu sei disso. Você sabe disso. Muitos já sabemos disso.
Por que não abrir os olhos?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A inteligência e as outras dimensões do humano

Somos tão inteligentes, tão dinâmicos, tão espertos... e no entanto, não conseguimos ver a destruição que ocorre em todos os pontos do planeta e bem ao nosso redor. E não conseguimos perceber que essa destruição afeta a nossa vida. E não conseguimos entender que a nossa vida é apenas um projeto de outros que organizam a nossa vida.

É bom sabermos que a inteligência é um dom muito louvável no ser humano, mas é bom sabermos também que é apenas uma dimensão da nossa existência, não a única e talvez nem a mais importante. Outras dimensões fazem parte de nosso ser: os sentimentos, a sensibilidade, a intuição, o inconcebível. Estas talvez sejam partes bem superiores no ser humano. Seguramente são bem mais antigas. E são estas outras dimensões, que nos tornaram humanos, segundo a biologia do amor de Maturana e Varela, que foram “esquecidas”, sublimadas, em função desta nova capacidade surgida a tão pouco tempo no ser humano, entre 100 e 600 mil anos atrás, e que tanta falta faz a nossa civilização.

São estas outras dimensões que são responsáveis pelo afeto, pelo respeito, pela ética, pelo carinho, pelo cuidado para com o outro, pelo amor, pelo nosso deslumbramento diante deste tão maravilhoso mundo. São estas dimensões que nos permitem amar, querer nossos filhos, sentir o desejo de brincar com nossos filhos, construir belos rituais para louvar o desconhecido.

São também responsáveis pela beleza da solidariedade frente às vicissitudes alheias e são elas que nos permitem viver uma vida prazerosa e bela. Segundo o biólogo Humberto Maturana, o processo de hominização ocorrido com o antropóide deu-se exatamente em função da capacidade deste de compartilhar e amar os seus e a seus filhotes como nenhuma outra espécie de antropóide existente o fez. Foi o processo de compartilhar, cuidar e amar que deu espaço para o desenvolvimento da inteligência no ser humano.

Então por que nossas escolas são voltadas apenas para a dimensão do mental, a dimensão invasiva, fria, calculista, exata?

Provamos no decorrer destes milhares de anos que esta dimensão humana sozinha não é capaz de nos trazer paz e alegria. Provamos que atribuir a responsabilidade de nossa vida e desenvolvimento apenas a dimensão da inteligência é catastrófico para a vida humana a nível individual, coletiva e para todas as espécies vivas do planeta.

Se olharmos para o que construímos com nossa capacidade mental, sem dúvida veremos maravilhas: desvendamos a estrutura do átomo; fomos ao espaço; descobrimos a lógica do funcionamento do corpo humano; desvendamos certas leis da natureza que nos permitiu multiplicar por milhares de vezes a produção agrícola, etc; construímos lindas habitações individuais e coletivas; desenvolvemos belíssimos instrumentos musicais e criamos a fantástica arte do cinema, etc; mas fomos incapazes de parar de gerar dor, morte e destruição provenientes de nossos próprios atos políticos. Tornamo-nos cada vez mais incapazes de frear a máquina de guerra destruidora que nosso gênio mental inventou e perdemos a capacidade de amar, respeitar o próximo, termos sentimentos profundos e nos tornamos cada vez mais fúteis e insensíveis ao sofrimento do outro. Nossa comunidade não é mais uma comunidade pois não conhecemos nosso vizinho. O amor tornou-se uma mercadoria e o sonho, a intuição, o deslumbramento com o mundo que nos rodeia foi dando lugar à preocupação exacerbada para com o dia de amanhã.

Um ser frio, calculista e individualista nasceu a partir da predominância da mente sobre as outras dimensões que compõe o humano. Por que nas escolas, além do ensino da utilização da mente não se fala da beleza, da gentileza, da leveza da poesia, da sensibilidade, do deslumbramento frente ao insondável e maravilhoso mistério da vida? Por que não se ensina a amizade, o companheirismo, a solidariedade, a alegria de se estar vivo junto com o outro e por isto mesmo com possibilidade de desfrutar a vida?
Será que a única resposta que temos para esta questão é que pelo desuso perdemos estas outras dimensões que compõe o que chamamos de humano?

terça-feira, 30 de março de 2010

Meditação

A meditação, uma prática milenar utilizada cotidianamente no Oriente, é cada vez mais reconhecida no Ocidente e cada vez mais respeitada, tanto nos meios científicos quanto médicos, como um instrumento que traz benefícios tanto físicos quanto emocionais para quem a pratica regularmente.
Pesquisas apontam que a pessoa que pratica meditação, possue maior resistência às doenças, desenvolve maior autocontrole, aumenta a auto-estima, melhora a capacidade da memória, intensifica a inteligência aumentando a capacidade de aprendizagem, produz maior relaxamento físico, o que torna a pessoa mais tranqüila para enfrentar os desafios cotidianos, dá maior capacidade de discernimento para tomar decisões, enfim, produz uma série de benefícios tanto nos campos físico, quanto mental, emocional e espiritual.
Vários hospitais, hoje, introduzem técnicas da meditação diária para pacientes com diversos problemas entre os quais, os cardíacos e para situações pós-operatórias na qual o paciente precisa ficar em estado de relaxamento e repouso. Executivos de várias empresas, hoje, utilizam a meditação para permanecer em estado de alerta e centramento de que precisam para tomadas de decisões. Terapeutas de um modo geral utilizam a meditação como instrumento para obter progressos com seus clientes e cada vez mais, pessoas das mais diversas áreas praticam em suas casas ou centros, técnicas de meditação que ajudam a desenvolver maior capacidade para viver seu dia-a-dia com mais paz, harmonia e inteligência.
A tensão, proveniente da carga horária estafante do trabalho, em muito seria diminuída, senão extinta, caso a prática da meditação fizesse também parte do cotidiano daqueles cujo fazer diário é fonte de tensão e stress. A meditação hoje, portanto, não se restringe àqueles que seguem uma veia mística/espiritual, mas sim, a todos que desejam melhorar sua qualidade de vida, tanto no que se refere a melhora de sua produtividade no trabalho, quanto na sua vida diária.

domingo, 28 de março de 2010

A PAIXAO DE CRISTO ENCENADA NA PARAÍBA

Aconteceu numa cidadezinha lá nos confins da Paraíba!
O dono de um circo, em passagem pela cidade e sabendo quão religiosa era a comunidade,
resolveu encenar a PAIXÃO DE CRISTO na Sexta-Feira Santa.
O elenco foi escolhido dentre os moradores locais e, no papel principal - de Jesus Cristo –
colocaram o cara mais “gato” da cidade.
Os ensaios iam de vento em popa quando, às vésperas do evento, o dono do circo soube que o
“Jesus” estava de caso com sua mulher. Furioso, o homem deu-se conta que não podia fazer escândalo pois iria por a perder todo o trabalho e o investimento que fizera pra montar a peça.
Pensou, pensou...
Na véspera do espetáculo, comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do CENTURIÃO !!!
- Mas como? - reclamaram todos!
- Você não ensaiou!
- Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala! (Mesmo sem gostar, o elenco teve que aceitar, afinal,o cara era o dono do show).
Chegou o grande dia!
A cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a platéia chorosa em profundo silêncio...
Jesus carregando a cruz... e o “centurião” começa a dar-lhe chicotadas...De verdade.
-Oxente, cabra, tá machucando!
Reclamou “Jesus”, em voz baixa.
- É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o “centurião”. E tome mais chicotada... lept, lept,
o chicote comendo solto no lombo do infeliz..
Até que “Jesus” que já reclamara bastante, enfureceu-se de vez, largou a cruz no chão,
puxou uma PEIXEIRA e partiu pra cima do “centurião”:
_ “Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso”!
O “centurião” correndo e “Jesus” com a peixeira correndo atrás e a platéia em delírio gritando:
“É isso aí! Fura ele, “Jesus”!
“Fura que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém não !!! ”.

segunda-feira, 22 de março de 2010

DESÂNIMO

Estou tão desanimado
Tão cansado
Tão descrente
Principalmente quando olho
Para meus dessemelhantes
E vejo em seus olhos
Um aparelhinho de televisão

Vejo que as cores são superficiais
Vejo que a voz é impostada
Vejo que a vida é um se arrastar
Debruçado em algum item vendido
Pelos aparelhos de imagem e voz

E a vida vai rolando item atrás de item
Moda atrás de moda
Criadas num moto contínuo inexorável
A conduzi-los feito gado
Não,
Feito feras autoflageladas
Flagelando crianças que nascem livres

Feito uma favela cercada de repórteres
Por todos os lados
Anunciando, anunciando, anunciando
Ad infinitum.

E AGORA?

Agora
Apenas o canto dos pássaros
E o silvo do vento nas folhas das árvores
São os sons que escuto
No alto do lajedão

A casa toda de sombra
Espera a claridade
De tua presença

As pequenas plantas
Que com tanto zelo
Cultivastes
Penosamente
Sentindo meus parcos cuidados
Com dificuldade
Florescem!

ESPERANÇA

Mesmo que o dia escureça
Mesmo que o chumbo cubra meu céu
Mesmo que o peito se comprima em lágrimas
Ainda assim a esperança
Uma fagulha que seja
Permanecerá presa nas cavernas do coração.

Mesmo que o caminho desapareça sob os pés
Mesmo que os sentidos não consigam perceber
Mesmo que a alma se perca na escuridão
Ainda assim a presença de vida
Far-se-á sentir nos gemidos
Nascidos da alma ferida.

Mesmo que a ferida esteja aberta
Mesmo que a fenda no peito seja profunda
Mesmo que não haja mão amiga a vista
Ainda assim haverá o contato
Do que resta da alma
Afagando as chagas da dor

Mesmo que não tenha mais nada
Mesmo que tudo me seja saqueado
Mesmo que nem um banco de praça reste
Ainda assim lembrarei que tudo passa
Que a dor consome a si mesma
E a luz pode alcançar o ser

Mesmo que não haja mais possibilidade
Mesmo que não tenha mais solução
Mesmo que a vida esteja por um único fio
Ainda assim ela estará por um único fio
O suficiente para segurar
A estrela que brilha no céu.

E a luz se fará
E nós veremos um novo mundo novo
Renascido das cinzas
Bem de dentro de nós
De nossa própria dor.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Viva a Mulher

Por que se comemora 8 de Março como o dia internacional da mulher?

A resposta mais óbvia é que em 1910 durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de 100 representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e assim obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

No entanto, para além dessa resposta de caráter histórico, existe também a necessidade de responder a questão dentro de uma abordagem evolucionária da espécie humana e que portanto diz respeito a todos nós interessados em traçar melhores rumos para nossa história. A questão colocada é a seguinte: não é mais possível haver evolução sem a inserção da experiência emocional/espiritual feminina no universo masculino.

Durante longos estágios de história, a presença masculina esteve sempre vinculada ao comando da sociedade, a manutenção material da espécie, seja quando éramos caçadores, seja quando conquistadores guerreiros, seja produzindo e construindo as condições materiais para dar suporte a vida humana, enquanto a mulher esteve mais voltada para a tarefa do criar e dar suporte espiritual e emocional aos membros dos grupos sociais, seja como mãe, como esposa ou como sacerdotisa ou mesmo deusa.

No entanto, o desenvolvimento da vida moderna retira este status da mulher e a coloca em pé de igualdade ao homem no que diz respeito a produção de bens materiais para o sustento da família. Agora, não é apenas o homem o provedor material da espécie, mas também a mulher que assume as novas funções sociais. Mas ela não vem desenvolver essa nova tarefa sem interferir com o universo masculino. Ela traz princípios novos que serão a base de uma sociedade rica e produtiva: a espiritualidade e a emoção. Estes princípios são fatores fundamentais para a evolução da espécie e vão gradativamente se inserindo no universo masculino transformando o homem em um ser mais espiritualizado e emocional o que traz outra dimensão à sociedade humana.

A mulher, portanto, tem papel vanguardista nesse processo evolucionário humano hoje, quando traz sua milenar experiência na lida com as coisas do espírito e da emoção. O ser humano antes partido, dividido entre aquele que produz os bens materiais e aquele que tem na emoção e na espiritualidade sua força de vida, reúne-se para formar uma nova humanidade, uma nova espécie mais integrada com os valores tanto materiais quanto espirituais e emocionais.

Infelizmente, muitos homens e mesmo muitas mulheres, ainda não compreenderam este novo estágio pelo qual passa a humanidade, não percebendo a enorme importância para a evolução da espécie do papel da mulher nos dias de hoje e recusa-se a honrá-las como se as deve honrar e as mantém dentro de um antigo paradigma.

Sem sombra de dúvida, a evolução da espécie passará inevitavelmente pela libertação total da mulher do antigo paradigma e pela sua completa individuação como pessoa humana. Portanto, não se trata de festejar apenas uma data, mas sim de festejar o anúncio de uma nova Era.

Firdauz

domingo, 7 de março de 2010

POR QUE POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA?

Nos dicionários encontramos a palavra indigência significando pobreza, carência, falta do mínimo necessário à sobrevivência, sempre numa referência a não satisfação das necessidades básicas do corpo. No entanto, a pergunta acima, me leva a uma reflexão que vai além destas afirmativas dicionárias. A indigência de que o homem padece hoje e talvez sempre tenha padecido é também de cunho emocional/espiritual, é indigência de si mesmo, de carinho e de compaixão para consigo mesmo. É a indigência dos tempos míticos desde nossa expulsão do paraíso.
Em minha visão, no entanto, nós nunca estivemos tão próximos como agora, de uma mudança mais radical do que a que se avizinha, como uma possível volta ao reino paradisíaco perdido.
Sabemos que, tecnicamente, a fome não é mais compatível com o mundo contemporâneo e que a produção de alimentos mundial é mais que suficiente para matar a fome de todos os habitantes de nosso planeta. Então, por que ainda existir este flagelo que mata milhões de pessoas? Por que nós, agora imbuídos de conhecimentos científicos, não resolvemos muitos dos problemas com soluções óbvias, que afligem a humanidade como um todo, inclusive pondo em perigo a própria sobrevivência do planeta?
A resposta é clara. Ela está na necessidade urgente de uma mudança comportamental do ser humano. Uma mudança nos nossos valores, nos nossos hábitos, na nossa capacidade de “enxergar” o mundo como uma entidade viva da qual fazemos parte apenas como uma teia de infinitas relações de interdependência e que ao quebrarmos esta teia, afetamos todo este equilíbrio vivo. Ou seja, estamos agindo de forma tal que desequilibramos a rede da vida pondo em perigo toda a terra.
Uma mudança de valores portanto se faz necessário. Uma mudança espiritual se faz urgente.
E aí entra a importância da poesia nestes tempos de indigência pelos quais passamos, porque é palavra transformada em emoção, em experiência existencial/estética. Uma frase bem escrita, uma reflexão transparente e aberta nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos a partir de nossa própria vivência. Olhar o mundo com emoção, emocionar-se com um pôr-do-sol ou um nascer-do-sol, com um olhar de uma criança, com o desabrochar de uma rosa é poesia. Perceber a vida como uma cadeia de aconteceres e imaginar-se nesta cadeia, como parte integrante da dança do universo é poesia também. Olhar para o interior de nós mesmos e percebermos a mágica composição de nossa constituição é a poesia da vida. Poder olhar a vida e estaziar-se com sua elegância e beleza é impossibilitar-nos agir contrariamente as leis naturais e mudarmos nossos comportamentos agressivos, anti-sociais e antiéticos. Olhar a vida, portanto, como o poeta olha a palavra, é condição fundamental para que transformemos este planeta num lugar mais habitável, mais humano e mais bonito de se viver. A poesia na verdade, é a nossa essência, é o que unifica todos os povos, nosso bem comum.

Firdauz

segunda-feira, 1 de março de 2010

Nem isto nem aquilo

Geralmente se ouve dizer: aos políticos a política; aos espiritualistas as coisas do espírito. Porém, nada mais enganosa que esta afirmação. O ser humano não é dividido em departamentos, ele é tanto o céu quanto a terra; matéria e pensamento; abstrato e concreto; vida e morte; o agora e o sempre.
Infelizmente, no decorrer de nossa história, fragmentamos nosso ser e passamos a nos comportar como se fossemos seres ou apenas dos céus (e então os espiritualistas se escondem nas montanhas), ou apenas da terra (e nos transformamos em acumuladores frenéticos de bens materiais, como que viciados no verbo ter).
É preciso que compreendamos, que o caminho é para a unidade e que a espiritualidade que tanto buscamos indo aos mosteiros, fazendo yoga, meditação, etc, não está em discordância com questões concernentes a melhora do padrão de vida social, o que implica dizer que não está fora da batalha da discussão sociológica por uma comunidade mais justa e igualitária, mas muito ao contrário, nosso aprimoramento espiritual está intrinsecamente vinculado a melhora da qualidade material de toda a sociedade humana o que corresponde ao grande plano cósmico evolucionário do espírito.

POR UMA NOVA QUALIDADE DE VIDA.

É de manhã, seis horas. Você acordou. Os pensamentos ainda vêm à cabeça de forma lenta e imprecisa. Você ainda esta se desvencilhando do relaxamento provocado pela noite de sono. Estirando o corpo, espreguiçando. Neste momento, você levanta, vai para algum espaço de sua casa onde possa sentar-se confortavelmente, de preferência sobre uma almofada, coloca uma música bem suave e com volume baixo em seu aparelho de som, fecha os olhos e passa a ser observador de si mesmo. Você vai agora observar maravilhoso silêncio interno que reside dentro de você.

Você vai começar observando os seus batimentos cardíacos. As quantas anda seu coração? Sinta seu coração. Depois vai perceber sua respiração: o ar penetrando pelas suas narinas, preenchendo os seus pulmões e saindo novamente, bem docemente. Depois vai sentir os seus pés, as plantas dos pés; será que elas estão bem? Depois as suas pernas, a parte interna das pernas; estarão elas tensas? As coxas, os músculos das coxas; Como você os sente? O abdômen sinta-o relaxando; o tórax, o quanto ele pode estar tenso ou não; a garganta; estará ela arranhada ou não? Os ombros, estes carregam um enorme peso; estarão tensos? (normalmente os ombros guardam muita tensão), os braços, solte-os, deixe-os bem a vontade; as mãos, afrouxe as mãos; os dedos das mãos, relaxe-os bem; e por fim a cabeça, sinta-a bem leve e tranqüila. Tudo isto sem esquecer da sua respiração. A música lhe conduz. A atenção e o relaxamento simultaneamente sempre presentes em você. Neste momento não mantenha nenhuma pre-ocupação. As imagens vêm a sua mente, os pensamentos também vem, você deve permiti-los chegar e permiti-los irem embora também. Não se fixe em nada. Muitas imagens e pensamentos virão. Deixe-os vir e deixe-os partir. Em certos momentos, você sentirá um silêncio, o profundo silêncio que existe bem dentro de você, uma enorme paz e uma sensação de que você é uma pequena parte deste todo da criação, uma pequena partícula, mas uma partícula da maior importância porque você perceberá que esta pequena partícula é parte integrante de todas as coisas vivas que habitam este planeta, você perceberá que somos um só corpo, todos irmanados dentro de um mesmo divino projeto da criação.

Faça isto durante uns 15 a 20 minutos todos os dias e você sentirá uma qualidade nova brotando no seu ser, uma mudança na sua vida, uma nova alegria de estar vivo a partilhar a beleza da criação com todos os outros seres que habitam este nosso belo planeta.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A EDUCAÇÃO NOSSA DE CADA DIA



Foi com grande indignação que recebi e-mail informando que os 04 adolescentes do ensino médio que ganharam o concurso nacional de Olimpíada Brasileira de Biologia, não puderam participar da 18ª Olimpíada Internacional de Biologia realizada no Canadá entre os dias 15 e 22 de julho porque o governo alegou não ter dinheiro para custear as passagens destes estudantes e mais dois acompanhantes àquele país.
A educação é prioridade no Brasil diz o presidente Lula. A educação é prioridade na Bahia, diz o governador Wagner. E todos os outros governos brasileiros dizem em coro: a educação é prioridade no meu governo. Isto independente do partido que está no poder.
E por que os políticos dizem isso quando o que vemos em todo o país é uma educação esfacelada, com professores mal pagos, escolas sem infra-estrutura para funcionar, com falta de verbas, com falta de incentivo à capacitação de professores, com materiais didáticos de baixa qualidade, com salas entupidas de alunos, com professores fazendo greve para ter seus direitos atendidos, etc? Porque hoje todos sabemos que a educação é básica para o desenvolvimento de um país como provam os vários Estados Nacionais que investiram maciçamente em educação; porque se sabe que a educação é fundamental para o fomento da cidadania e da construção de um país mais justo e igualitário; porque se sabe que está na educação o futuro da humanidade. E esta verdade está em todas as bocas: desde o homem culto até aquelas pessoas analfabetas que lutam para manter seus filhos na escola porque pensam que só ali os filhos podem vir a ter alguma chance neste competitivo mercado de trabalho. E os políticos sabem disso. E falar em educação como prioridade gera votos, gera mídia, gera possibilidade de estar no poder por mais alguns anos. Quiçá, para sempre.
Há alguns anos atrás, havia poucas escolas no Brasil para muitos jovens que não tinham acesso a ela. Educação era privilégio dos filhos de ricos e poderosos fazendeiros donos do poder político, senhores do poder econômico que sabiam que era necessário ter seus filhos uma formação universitária para poderem continuar mandando no país. E assim era feito. Com o passar dos anos a educação democratizou-se. Aos pobres, o acesso à educação foi permitido, aliás, exigido por um sistema produtivo muito mais evoluído que necessitava de uma mão de obra mais qualificada, precisava de uma mão de obra com requisitos mínimos para poder mover uma fábrica ou necessitava de pessoas que soubessem ler o mínimo para entenderem os manuais de funcionamento das máquinas e até de mecanismos simples de computação e automação.
O sistema produtivo atual não aceita mais o analfabeto. Este fica completamente a margem, cabendo-lhe tão somente serviços domésticos e similares. O sistema precisa de mão-de-obra mais qualificada, alguns inclusive com formação universitária. Foi portanto, a tecnificação do sistema produtivo que levou o Estado Brasileiro a investir um pouco mais em educação segundo as necessidades de um mercado que precisava de mão-de-obra qualificada que pudesse dar andamento à máquina burocrática, técnica e produtiva do país e... só isso. Infelizmente não houve uma política de Estado voltada para o aperfeiçoamento humano, voltada para a formação de valores humanísticos, voltada para a formação de seres humanos capazes de se inserir com qualidade em um mundo novo que se avizinhava e que vai se delineando cada vez mais como um mundo onde é necessário não apenas a formação técnica-científica, mas também a habilidade para tomar decisões, solucionar problemas, ter autonomia intelectual. O fim último da entrada da grande massa de estudantes que hoje estão em ambiente escolar, foi e continua sendo tão somente sua precária inserção no sistema produtivo.
Não há dúvida que o analfabetismo tem seus dias contados, o novo conceito agora é o do analfabeto funcional, conceito este existente apenas em países de terceiro mundo como o Brasil. Não resta dúvida também, que estamos implementando uma política educacional formadora de mão-de–obra de péssima qualidade e de formação humana nenhuma. Não há no Brasil uma política de Estado voltada para a formação de mão de obra de boa qualidade e de cidadãos aptos para o exercício da democracia. Não há interesse em se formar cidadãos críticos neste país.
As classes dominantes já não são as únicas a irem para as universidades mas são as únicas a fazerem os doutoramentos e pós-doutoramento que é exigência de mercado hoje. E as coisas afinal de contas, continuam muito parecidas, atores mudaram, o cenário mudou, a roupagem mudou, mas em essência, tudo permanece o mesmo. Se antes as massas populares eram analfabetas porque não havia necessidade de alfabetização para o trabalho, hoje, se elas entram nas escolas, é porque o mercado assim o exige, no entanto que lhes seja ensinado apenas o suficiente para lhes retirar do analfabetismo para que possam mover a máquina pública, a burocracia, e ponto final. Passamos agora a criar o analfabeto funcional. Cidadania, ora isso é coisa para os ricos, para a classe média alta que nem mais se preocupa com o terceiro grau mas sim com os doutoramentos e os outros pós.
Para a massa da população resta uma educação de última qualidade, resta uma educação entregue as traças, cuja finalidade é apenas retirar o individuo do analfabetismo para que possa servir aos interesses do capital e render muitos, muitos votos para os políticos. E enquanto isto, o país vai a deriva, como um barco a velas, solto na imensidão de um grande oceano.
E as perguntas que deixo são: mudou a visão que as elites brasileiras tem da educação tanto as de ontem quanto as de hoje? Mudou a sua visão de sociedade?