terça-feira, 14 de setembro de 2010

Queimadas

Mais um Setembro se inicia
E mais uma vez se inicia também
A queima de minhas matas.

Por que me tratam assim?
Por que me despem de minhas verdes vestes de forma tão brutal?
Acaso ando eu a tratar tão mal meus filhos diletos?
Acaso lhes deixo sem água para matar vossa sede
Ou alimento para saciar vossa fome?

Vocês humanos são meus filhos diletos

A vocês dei não somente vida como aos outros animais
Mas também inteligência para melhor me conhecer
E extraírem tesouros que possuo escondidos
Em locais que só com sua inteligência podem ser alcançados

A vocês dei abundância de água, de terra e ar
E no entanto, vós, com suas mesquinhas iras, suas intestinas lutas
De seres humanos imaturos, tocam fogo em minhas verdes camadas
Que ressecam minha pele, matam animais, destroem rios, acabam
Com a diversidade da vida e poluem o ar

O que querem vocês?

Alguém, alhures, já disse que fazer mal a terra
É fazer mal aos filhos da terra
E todos vocês são meus filhos
Vieram de minhas entranhas e para lá hão de voltar.

Por que maltratam a mim e a seus irmãos irracionais?
Acaso não me reconheceis como sua mãe?
Acaso não reconheceis os outros animais como vossos irmãos?
Quando os gerei com sua inteligência
Pensei no melhor
Pensei no mais belo de minha criação
Pensei no apogeu de minha criatividade
Mas não pensei que esta poderia ser também
A minha própria destruição e de todos os filhos outros que gerei

Sei que tentei o belo, sei que tentei o bom
No entanto, não foi o suficiente
Não foi o bastante lhes dar a inteligência
Era preciso sobretudo lhes dar a sabedoria e o amor
Que ficou escondido em algum lugar
Guardado no fundo de seu imaturo peito

E por isto, vendo hoje os Setembros chegarem, vendo os Outubros e
Os outros meses quentes chegarem, olho para meus outros tantos
Filhos mortos e feridos por seu insano ato
De queimar minhas verdes coberturas, e lhes peço perdão

Às vezes por ter criado vocês humanos,
Às vezes por ter esquecido de lhes colocar
Um pouco mais de amor no coração

Sei que foi por pouco, sei que foi por um triz
O amor apenas não ficou a vista de vocês
Pensei que com a grande inteligência que lhes provi
Vocês o encontrassem

Mas como dói meu erro

E agora sou obrigada a dizer:

Filhos, como mãe, como terra,
Como senhora de toda a criação deste planeta
Se quiserdes continuar a existir cá em mim,
Pensem no que estão a fazer
Reflitam sobre a destruição que provocais e usem um pouco mais
Aquilo que de bom coração deixei a vocês:

A inteligência.

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