domingo, 24 de outubro de 2010

A doce alegria de aprender

A cada dia que passa aprendo mais uma coisinha, o que me traz mais prazer de viver. E o prazer de meu viver vai se dando através da emoção do ato de conhecer um pouco mais sobre as coisas. São pequenos vislumbres de poder olhar o mundo de modo mais individual, próprio, de um sentir único, diferente dos demais viventes e por isso mesmo, merecedor, como todos os outros, de respeito.

A cada dia que passa podemos admirar uma forma diferente. Não porque ela não existisse anteriormente, mas porque aguço meu olhar naquela direção e vejo o que não via, embora a muito estivesse lá. E o olhar que se maravilha com a forma vista, agora transmuta o ser internamente trazendo-lhe admiração pela vida que se revela. E o olhar vai se aprimorando vai crescendo em intensidade e profundidade com esse pequeno exercício de olhar e verdadeiramente ver.

Andamos como autômatos, acostumados a ver... não vemos. Criamos o hábito de achar que conhecemos e desperdiçamos enormes oportunidades de realmente conhecer. Somente quando sacudidos por algum evento externo a nós é que prestamos mais atenção. Um exemplo banal é com relação a nossa própria alimentação. Sabemos que certos alimentos não nos fazem bem e, no entanto, vamos postergando e comendo até que certo dia somos despertados por aquele mal que sabíamos viríamos a ter.

Andamos como autômatos porque acreditamos muito facilmente no que nos dizem, não investigamos por conta própria, vamos deixando a curiosidade a medida que crescemos e nos tornamos adultos.

Os adultos não são curiosos, temos uma mente sedentária impregnada de conceitos antigos trazidos pelos mortos passados. Não é a toa que Marx falava que os espíritos dos mortos atrapalhavam o dos vivos. Apenas reproduzimos padrões, comportamentos, todos deixados para dar continuidade a estrutura da sociedade. E por que perdemos o viço da curiosidade infantil? Por que deixamos de perguntar o porquê das coisas serem como são.

Quando nascemos e ainda crianças, somos únicos, indivíduos cuja capacidade de pensar por si próprio impressiona. Somos curiosos, pesquisadores do mundo que se oferece a nós, vamos buscando entre erros e acertos as respostas. Infligimos regras e rompemos barreiras. Mas por essa ousadia, pagamos um preço e vamos sendo obrigados a obedecer as regras de convívio social. Vamos perdendo o nosso foco e adquirindo o foco social, vamos deixando o indivíduo e assimilando a condição de igual aos outros. Vamos nos homogeneizando, vamos nos tornando iguais aos outros, pensando da mesma forma, do mesmo jeito. Vamos perdendo a capacidade de reinventar as coisas e nos conformando com a realidade criada por nossos mortos. Vamos nos acostumando com o que temos e nossa rebeldia natural vai dando lugar ao ser humano domado, seco, sem o viço da criatividade, da inventividade. Vamos nos tornando conformistas. E passamos a conviver com a mentira, com a injustiça social, com a hipocrisia, com a tensão da vida diária. Vamos deixando que tudo se torne amarelo, sem o nexo com o que torna a vida realmente digna de ser vivida. Vamos sendo uma corrente amorfa e sem conteúdo individual, vamos nos tornando uma massa de gente que vive sem viver e morre sem saber que estava vivo.

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