terça-feira, 26 de janeiro de 2010

EU QUERO TRANSFORMAR O MUNDO

Já ouvi muitas vezes pessoas me perguntarem ou afirmarem, em tom irônico, a partir de ouvirem minhas convicções políticas, científicas ou filosóficas se eu quero mudar o mundo. Minha resposta é e sempre será que sim. Sim, eu quero transformar o mundo. E não só quero, eu efetivamente o transformo.
Penso que a maioria das pessoas também querem, mas no entanto, não acreditam nem por um instante sequer que assim o podem fazer. Não percebem que historicamente o mundo vem mudando e quem o muda é a ação humana. É a ação cotidiana de cada um que o transforma ou o mantém do jeito que está.
Karl Marx nos ensina que é o desenvolvimento das forças produtivas que impõe as transformações sociais e que a luta de classes é o motor destas transformações. Em um dado momento, as forças produtivas sociais se vêem impedidas de se desenvolverem devido às relações sociais que se verificam no interior do processo produtivo, pois estas obstaculizam este desenvolvimento. E por isso isto fazemos mudanças sociais.
Isto significa dizer que durante toda nossa história viemos evoluindo mas que esta evolução independe de nossa própria vontade, é uma lei do desenvolvimento social. Ainda segundo Marx, o comunismo seria uma conseqüência natural do desenvolvimento social e este seria uma etapa mais avançada do nosso processo de humanização.
Pois bem, a União Soviética se mostrou um fracasso e todos os países comunistas fracassaram no seu intento. Qual o grande erro não visualizado por Marx?
A mim parece que uma mudança com a extensão que Marx preconizava, necessitava também de uma transformação humana em profundidade. E profundidade para mim significa assumir toda e qualquer responsabilidade por tudo, absolutamente tudo, que acontece a nossa vida pessoal e em nosso meio social. O mundo não é assim como está por um acaso qualquer, mas porque nós, seres humanos, ainda nos arrastamos na inconsciência de nossos atos. Ainda não percebemos que fazemos parte de uma cadeia organicamente constituída onde cada folha que cai de uma árvore, produz mudanças na grande teia da vida, embora sejam estas mudanças imperceptíveis para nossos olhos despreparados. Ainda vivemos na ignorância da separatividade pensando que somos seres individualizados e que nossos atos são isolados e não se refletem na cadeia planetária e universal. Apesar da dialética nos ensinar que tudo se relaciona e termos hoje a prova científica de um universo sistêmico, isto é, constituído de vários sistemas interdependentes, continuamos a ignorar este postulado e recusamo-nos a caminhar em direção a uma vida mais saudável, mais racional, mais equilibrada e mais consciente.
Sim, nós podemos transformar o mundo, mas para isso é preciso que cresçamos em propósito, que cresçamos em consciência, que de fato acreditemos nesta possibilidade de mudarmos nossa própria vida agora, neste instante, subvertendo valores retrógrados que não mais correspondem a uma era plena de amor como a que se avizinha. Ë preciso que compreendamos que o nosso mundo individual, nosso mundo interno, a forma como sentimos o mundo, determina de certa maneira, o mundo exterior. Ë preciso, em outras palavras, vivenciar o amor para que ele efetivamente exista ao nosso redor. E somente através desta vivência, através de muitas vivências positivas, poderemos ter um mundo completamente novo. Simplesmente acredite nesta possibilidade e veja o que acontece.

Um comentário:

  1. Gostei do texto. Para mim, a maior contribuição do marxismo foi a elaboração de que as descobertas não ocorrem do céu para a terra, mas da terra para o céu. Penso que não dá para entender mais a realidade contemprânea baseando-nos apenas nas contrbuições marxistas. Há algo no ser humano e na humanidade em seu movimento histórico que escapa a qualquer abordagem téorica, limitando nossas previsões, por mais bem elaboradas que sejam. É legal isso. Vejo o retorno de um certo senso comum nesse processo, tornando os cientistas mais humildes e mais sensatos e prudentes em suas elaborações teóricas. Edgar Morin, o próprio Gramsci já começa, penso, a fazer essa transição quando coloca o papel importante da superestrutura na transformação da história. "A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte".
    Nesse sentido percebo o importante papel desempenhado pela cultura popular quando ela reinaugura o povo reunido em comunidade, como elaborador de signos, interpretações e reinterpretações que incorporam novo ânimo ao processo político, redirecionando seu sentido e emancipando aonde se via impossibilidades.

    O artista conduz os outros homens e mulheres a um mundo de fantasia, onde seus anseios se libertam, afirmando desse modo a recusa da consciência humana em aceitar o condicionamento do meio. Mobiliza-se assim um potencial de energias submersas que, por sua vez, regressam ao mundo real, para transformar a fantasia em realidade. (THOMPSON, 1993, p.118)
    George Thompson, Marxismo e Poesia

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