segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Se dar bem na vida"

“Se dar bem na vida”, eis um os mais difíceis objetivos a que os seres humanos hoje podem almejar.
Em momentos tão confusos e caóticos como este nosso; em momentos de tamanha transição de valores, pensar nesta frase é confundir-se quase que completamente, principalmente os mais jovens.
O que é “se dar bem na vida”?
A meu ver não é nada mais senão viver em felicidade, em harmonia com os outros, em fazer aquilo que se gosta de fazer, em ter prazer de viver, em se harmonizar com o universo e acredito que todos hão de concordar comigo. Muito fácil e óbvio.
No entanto, quando trazemos este conceito para o cotidiano, as coisas se complicam um pouco. Na vida social, por muitas vezes, os valores se invertem, tornam-se confusos, enuviados por uma série de opiniões de pessoas que não conseguem enxergar esse óbvio, envolvidos que estão por uma série de interesses pessoais. Somos incentivados a ganhar muito dinheiro custe o que custar, a fazer sucesso, a ser o melhor, ter os bens da última moda, possuir, competir, ganhar sempre e este deve ser o padrão de conduta nosso. A priore impõe-se na mente de todos, através de vários mecanismos, que “se dar bem na vida” é ter, e não se pergunta a ninguém se existe concordância com esse ponto de vista. Perde-se o conceito óbvio da frase, desestimula-se a reflexão sobre seu conteúdo e na grande maioria das vezes não existe correlação efetiva entre a frase e o que se acabou vindo a ser no decorrer da vida.
Como posso “me dar bem na vida” se não existe tempo para refletir e meditar sobre o que quero dela? Se todos vem logo dizendo que é preciso pensar “em como chegar lá” no mais curto espaço de tempo, que é preciso fazer isto ou aquilo sem de fato se importar com o que quero de fato?
Tantas coisas há para fazer, tantas são as possibilidades, tantas buscas interiores precisam ser feitas...
Busquem, portanto, ser livres para dar sua própria interpretação a frase “se dar bem na vida” e sejam felizes em sua escolha...

domingo, 22 de maio de 2011

Plantemos jardins

Em tempos tão difíceis como esse, de guerras, fome, pobreza e má educação; em tempos de profundo individualismo, muros altos e fios elétricos a nos separar do mundo; em tempos do olhar desconfiado em direção ao outro - o que será que ele(a) quer?- e da solidão; em tempos de crianças mal tratadas por temperamentos enfurecidos pelos dias difíceis que correm; em tempos de hipocrisia, ganância e mentira por parte daqueles que se apoderaram do poder; em tempos dos desajustes sociais provenientes de imprevisíveis mudanças; em tempos de profunda concentração de renda a levar milhares à mendicância e ladroagem; em tempos de tanta fartura alimentar e pouca solidariedade; em tempos de tamanha riqueza produzida pela humanidade e ao mesmo tempo tamanha insatisfação; em tempos de fúria e medo que tomam conta de nossas cidades impondo a nós, cidadãos pacatos, o toque de recolher; em tempos de fantásticas descobertas científicas que deveriam trazer mais conforto e luz para humanidade, mas que são usadas para o gáudio de uns poucos bilionários; em tempos de secas, maremotos, terremotos, tsunames e outros desastres naturais atiçados pelas mãos humanas; eu proponho que cultivemos jardins em nossas casas. Eu proponho que flores de muitas cores assumam seus espaços nos quintais e jardins para que possam exalar seus perfumes e acariciar o coração humano. Eu proponho que toda casa tenha um canto de reflexão e meditação para que ao dele nos aproximarmos, possamos sentir o perfume da nossa interioridade, da nossa espiritualidade. Eu proponho que cada um cultive a flor maior e mais bonita de todas que mora bem no fundo de nós e que traz a fragrância do grande amor que reside dentro de todos os seres humanos. Isso porque o ser humano é a flor maior produzida em todos esses tempos de criação que existe na terra, mas é a flor mais escondida que há porque guardada dentro de uma pequena caixa que todos chamam de coração e se encontra encoberta por gerações e gerações de dores calcificadas pelo correr de tantos milênios de ignorância pelos quais passamos. E nós passamos, e nós descobrimos e fomos fundo em nosso amor, mesmo que muito escondido, quando viemos descobrindo os mistérios de nós mesmos. Mas agora sabemos, agora temos consciência que a flor que reside lá dentro, guardada no fundo do coração, é a mais importante flor, é nossa redenção, é nossa salvação, é o pináculo de nosso crescimento, é o fim da dor.
Proponho, portanto, para que consigamos retirar tantos anos de destroços que impedem nossa passagem para alcançar a flor do coração, que plantemos jardins em nossas casas de todas as cores para lentamente ir reconhecendo-as, ir tocando-lhes as pétalas, tateando-lhes a delicadeza, aprendendo com seu silencio e por fim alcancemos a flor maior do amor dentro de nós.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

DO JEITO DO AMOR

O amor é fundamental em nossas vidas, e isso é fácil de observar. Basta que percebamos a nós mesmos quando esquecemos dele. Uma sensação de angústia se apodera de nós, uma sensação de que nada anda direito, um cansaço e o tédio se apodera de nosso espírito. Um vazio, uma falta de sentido ataca nossa existência, ficamos pequenos, encurvados e até as doenças e dores nos atacam (se diz comumente que uma pessoa ranzinza é mal amada).
Às vezes esquecemos o amor e muitas vezes não o sabemos sentir. Pensamos que se refere apenas a um homem, quando ama uma mulher ou vice-versa. Mas há um grande mal entendido nisso que se anda a espalhar via principalmente televisão, do que seja o amor.
O amor é um estado de espírito! É quando nosso centro, nossa riqueza interior, consegue expressar-se livremente; quando um sentimento profundo de unidade se apodera de nós e nos percebemos membros da totalidade da vida; é quando o caos que nos rodeia todos os dias é percebido como um cosmos; ou quando nosso olhar vem da profundeza da alma e não da superficialidade da carne. É quando rimos por dentro e de dentro reverbera um significado especial para todos os aconteceres humanos ou não. É quando sentimentos profundamente humanos explodem dentro de nós e rimos e choramos e sentimos com profundidade nossa presença humanamente divina. É quando repentinamente estamos felizes, sem causa aparente, apenas estamos ali, presentes, abertos, despertos para a vida.
O amor é algo que, diferentemente do que se pensa, se ensina, se pode cultivar e pode se tornar um hábito em nossas vidas.
Muitas e muitas vezes, esquecemos do amor; a vida corrida, o império dos desejos, a busca incessante por algo a nos preencher, nos faz esquecer os momentos de profundo amor que já algumas vezes sentimos. Todos nós. Tente lembrar deste momento, tente trazê-lo para seu corpo, para seu espírito, preencha sua alma com este momento e veja o quanto isto é relevante, o quanto este sentimento de profunda alegria, pois amor é alegria, faz bem para nós. E lembre-se que nesses momentos de amor as tensões desaparecem e os problemas cotidianos são vistos por outro ângulo de outro jeito, do jeito do amor.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma pequena história

Era uma vez uma linda menina que gostava muito de viajar.
Viajava pelos rios. Grandes e pequenos. Ia pelas margens. Via pássaros e jacarés, onças e tamanduás, peixes de todos os tamanhos e sonhava vendo as nuvens no ar.
Viajava e passava por vários lugares, pequenos ou grandes, vilas de pescadores ou cidades de comerciantes.
Quando cansava de navegar, parava e ficava e ali pousava. Sempre guarita encontrava. Uma porta aberta, gentes, com quem trocava risos e sonhos, emoções e canções, corações e reflexões.
Depois partia, ia em direção ao rio que sua alma sorvia. O rio limpava seu espírito, enxaguava seu pranto, trazia a existência do silêncio e a alegria da solitude. O rio era sua vida. Seu encanto, sua beleza e leveza.
Um dia a menina parou em uma cidade, pequena, simples e bonita, pelo menos para o seu coração juvenil. Uma porta se abriu, a acolheu, tornou-se essencial, fundamental, excepcional. E ali se deixou ir ficando. Foi ficando. A cidade tornou-se o próprio rio, o barco, o vento, a descoberta. Foi ficando e indo, indo e ficando, ali, descoberta, coberta de tudo. Fez e refez tudo, várias vezes, tentativa e erro, acertos, felicidade e tristeza, vida completa.
Até que um dia a menina se foi. Foi para as nuvens, navegar no céu, foi para o mistério sem fim, brincar de descobrir, sempre, eternamente, ir, indo, indo, lindo.
Deixou saudades para quem a viu.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ser rebelde

Eu proponho rebelião a todos os espíritos que se sentem aprisionados por Maia, a ilusão.
Eu proponho aos espíritos inconformados, uma viagem ao seu interior, à sua essência, e de lá voltar consciente de seu próprio Ser.
Eu proponho aos espíritos rebeldes e buscadores, encontrar as mais profundas perguntas e delas extrair suas respostas pessoais, únicas e intransferíveis.
Possuir a capacidade de indignar-se, de inconformar-se com o que está dado é condição de todo ser humano, é característico do humano, e é essa essência que se busca extrair, principalmente dos mais jovens, quando se exige apenas a repetição de padrões comportamentais envelhecidos, que não apresentam ressonância nas consciências.
Rebelião, quando tem sua origem na indignação e na busca de perguntas e respostas que nos humanizam, é ato abençoado porque é humanização daquele que se vê forçado a repetir padrões de comportamento em todos os níveis de vida em detrimento daquilo que ainda não sabe ser sua própria essência.
A forma de dominação que prevalece nas sociedades modernas é a padronização do humano em sua forma de pensar, ser, buscar, querer tornar-se.
Os veículos de comunicação estão sempre a postos para nos fazer crer que devemos ser assim ou assados de acordo com os interesses daqueles que querem vender algum produto ou alguma idéia. Essa dominação tenta impor a nós o que devemos pensar, como devemos ser, onde devemos ir e respondem até porque devemos ir aonde nos mandam ir. A padronização mental é ato espúrio porque tenta nos fazer crer que a vida social é assim como está e sempre assim será. Visa tornar-nos conformistas ante as brutais formas de dominação.
Chamo, portanto, pelos inconformados, pelos rebeldes, pelos sonhadores, por aqueles que sabem que é possível ser um humano único, diferente, indivisível, criativo, vivo, no meio de tantos robôs sem vontade própria que nos rodeiam.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Um pequeno pedido de fim de ano

Quero pedir neste ano que ainda inicia que uma brisa leve penetre no coração das gentes e os transforme. Lhes dê asas de voar bem alto no céu, e voando alto, possam ver o mundo como ele é.
Lá de cima, os pássaros-gente, verão as montanhas e vales embaixo, os enormes e pequenos rios, os oceanos e as grandes ondas do mar. Verão as florestas e muitos animais que nela habitam.
Poderão sentir as correntes de ar e o próprio ar que respiramos.
Perceberão o silêncio e sua profunda sabedoria.
Sentirão as nuvens e nelas brincarão tocando-as, transformando-as, modelando-as.
Poderão ver a diversidade vegetal, os campos, o semi-árido, o deserto e sua magia e as estações diferenciadas que transformam as florestas.
Poderão maravilhar-se com o mundo que temos.
Quem sabe assim, percebendo que não há fronteiras no mundo, acabam com elas; quem sabe assim, percebendo que somos iguais em todos os lugares, não acabam com a fome e com as guerras? Quem sabe se voando como pássaros, não acabam por perceber a idiotice que estamos fazendo ao poluir o solo, o mar e o ar? Quem sabe não maravilham-se com o que temos e vemos e se transformam efetivamente em pássaros contempladores da vida abençoada que poderia ser para todos.

domingo, 13 de março de 2011

Nosso Oriente Médio

É com grande esperança que vejo a rebelião popular ocorrida nos dias de hoje no Norte da África e Oriente Médio contra ditadores que a longo tempo vem roubando o dinheiro público e impedindo o seu povo crescer em participação política.
São movimentos que nos dão a esperança de que ainda podemos fazer alguma coisa para mudar a história humana. São os ideais que se unificam em dado momento para impor um novo ritmo ou uma nova direção a um país, a uma comunidade ou uma aldeia. São estes momentos que mostram o quanto a unidade é fundamental para salvar o nosso futuro humano.
Muitos poderão dizer: ah! Mas isso não é possível ocorrer no Brasil, este nosso país não vai se unir nunca contra as forças retrógradas que nos comandam, o povo brasileiro é apático e não luta pelos seus direitos, etc.. A estes cabe lembrar que os movimentos revolucionários que estão ocorrendo naqueles países, acontecem após 20, 30, 40 anos de ditaduras, após longos anos de opressão e tirania.
Após deixarmos 20 anos de ditadura militar para trás, após muitas lutas e manifestações de rua, muita luta e morte, conseguimos reconquistar o direito de falar e expressar nossa opinião sobre a vida política do país; conseguimos afastar do poder os generais responsáveis pelos grandes desatinos ocorridos e que até hoje repercute no modo de ser de milhares de jovens brasileiros que não conhecem nossa história. Mas como está sendo demonstrado agora naqueles continentes, não há mal que sempre dure e ainda vamos virar o jogo, ainda vamos à rua expulsar do poder político, homens que não possuem condições de exercer o comando de uma nação por causa de suas práticas espúrias, antidemocráticas e principalmente pelo fato de visarem apenas o seu bem pessoal. Ainda vamos expulsar do poder homens que desatinados, empurram milhões de compatriotas para a miséria em nome de seu bem patrimonial; ainda vamos expulsar do poder aqueles que nos fazem ser campeões em atos de corrupção, aqueles que tornam nossa educação uma das piores do mundo, ou que nos conduzem a uma concentração de renda brutal deixando milhões sem as mínimas condições de sustentar seus filhos.
Ainda existe esperança de que grandes ou pequenos políticos brasileiros, presidentes, prefeitos ou vereadores, empresários ou funcionários públicos sejam efetivamente punidos por crimes que retiram do bolso da grande maioria do povo o dinheiro necessário para o sustento da família.
Ainda tenho a esperança de que um dia nossa população não possa mais ver cenas de crianças pedintes, de pais desempregados ou pessoas desprovidas do necessário para viver sem que se indigne e lute contra este estado de coisas. Ainda existe esperança de um Brasil mais justo e melhor.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Janelas abertas

Havia cinqüenta janelas à rua naquele dia. Eram forças que devoravam minhas energias, tomavam minhas entranhas e estilhaçavam meu dia.
Que janelas eram aquelas? De onde vinham? Como chegaram ali?
Subitamente se abriram e foram me observando como se eu fosse qualquer um transeunte que estaria passando por aquela rua. Seu ar era de devassa, invasivo, de grande violência. Dissecavam minha alma como a me dizer: “eu te conheço, tu não te escondes de mim, conheço teus segredos e teus planos, sei das tuas vontades e vaidades, tuas dores, nada podes fazer que eu não saiba”. Era uma terrível sensação ver-me desnudo diante daquelas janelas que me viam por dentro. A nudez se tornava insuportável. Quem consegue estar frente a um espelho que reflete a própria alma? A abertura daquelas janelas trazia luzes que invadiam meu interior e se tornavam insuportáveis porque me fazia ver o próprio âmago, minha própria dor, meu desespero. Via as infindáveis mágoas que guardo com tanto desvelo, via minhas iras que conservo pacientemente até o dia da vingança; via os choros contidos de tanta pena de mim mesmo, via o riso cínico do amor que guardava com pavor de vê-lo solto a tomar conta de minha alma e via o temor do futuro o medo de não dar certo, de não ser aceito pelos amigos. Tudo aquilo se me mostrava claro, bem nítido, aberto naquelas cinqüenta janelas que não sabia de onde saíram, de onde vinham e como tinham se posicionado ali naquele espaço que antes era tão meu conhecido. A rua era minha antes, passava por ela todos os dias, a conhecia como ninguém, de olhos fechados era capaz de cruzá-la sabendo cada passo a ser dado, de olhos fechados, sabia de cada pedra, cada árvore, cada tudo que se encontrava naquele caminho. Cada fenda, reentrância, para mim não era desconhecido. Tudo absolutamente no seu lugar, correto, sem segredos e sem medos, sem surpresas. E, no entanto, agora, aquelas janelas abertas subitamente, vinham retirar toda a paz que eu conhecia todos os segredos que nem mesmo neles pensava toda a segurança que por tanto tempo mantive presa dentro de mim. Malditas sejam vocês que com seu espelhar fazem-me olhar para aquilo que nem mesmo sei que possuo. Com que direito vem vocês perturbar o meu sono? Com que direito vem vocês tirar-me de meu torpor, de minhas mornas tardes quentes? Acaso não sabem vocês que o olhar é tão dolorido? Acaso não sabem vocês que foi ele, o olhar, à causa primeva de nossa expulsão do paraíso? Fechem-se, deixem-me a sós, no escuro. Não quero ver onde piso, não quer ver quem sou, nem quero saber o que guardo profundo trancado dentro do peito a sete chaves, prefiro a ignorância de mim mesmo, pois assim posso sofrer sem precisar reconhecer minha parcela de culpa nesta dor.
Olho meus passos que caminham trôpegos pela rua que não mais reconheço. O cheiro que antes me era familiar, agora é outro. As janelas me miram, fitam-me completamente envolvidas em meu desespero, minha alma percorre uma tremenda noite escura, sombria descoberta de meu sono. Chamo a todos que passam pela mesma rua de irmãos, mas ninguém reconheço, estou só, solitário, entregue a própria sorte, a própria morte, a mim mesmo, desconhecido, desesperado com aqueles cinqüenta olhares que me arrancam do peito toda a ferrugem que com tanto carinho agarro-me a preservar, porque é nela que está tudo aquilo pelo que lutei a vida toda, é ali que está toda a minha história, todo o meu investimento, todo o esforço de minha vida, toda a minha personalidade, todo o meu ego, minha ferrugem. E o que tem depois? Haverá por um acaso um depois? Se me permito invadir e ser franco com aqueles misteriosos olhares, haverá outra chance? Uma renovação, um chão para pisar? Perder-me-ei no nada? Tornar-me-ei um nada? Acaso não sou um nada? Tenho algo a perder?
Uma sombra vem chegando, o sol sumindo, as janelas insistem em me desnudar, eu, perdido diante de tantos olhares não tenho mais forças para resistir, entrego-me completamente. Minha alma floresce em êxtase.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Por que não agora?

Quando este tempo passar e as futuras gerações olharem para trás, vão refletir sobre o tempo que era aquele onde os governantes locupletavam-se no poder; onde os vereadores, os prefeitos, deputados, senadores e o presidente da república, junto com seus apaniguados, faziam da arte da política um baú de enriquecimento retirando da população tudo que lhes podiam roubar. Vão olhar para este tempo de infortúnio onde todo direito os ricos e os políticos tinham, enquanto os pobres os carregavam às costas sem terem o direito de reclamar. Estudarão um tempo de menosprezo a vida de um modo geral e vão chorar por todo um tempo desperdiçado pela raça.

Olharão o que restou e verão destroçadas as matas, os rios, a atmosfera e terão apenas as fotos para ver a terra como era bela.

Estudarão as poucas espécies que restaram e perguntarão por que tantas atrocidades foram cometidas contra todos os outros seres que habitavam o planeta junto com o ser humano? Perguntarão por que havia tantos pobres se a terra era farta e a tecnologia disponível podia dar de comer a todos? Por que havia tantas guerras, tanto ódio, tanto desamor se ao mesmo tempo era uma época onde se reverenciava homens que tinham pregado a paz, a tolerância, a partilha e o amor? Por que iam tanto as igrejas e templos orar pela paz e pelos semelhantes se ao mesmo tempo praticavam a intolerância, a cobiça, a vaidade e o menosprezo pelos diferentes de si? Estudarão nos livros de história, mas, sobretudo, a literatura e compreenderão o infortúnio da época, a luta que muitos de nós travamos contra este estado de coisas, mas, que foi impossível vencer tanta iniqüidade. Farão estudos antropológicos dos programas de televisão e chegarão a quase compreender a burrice que norteou a ação dos seres humanos nesse tempo. Perceberão que houve muitos espíritos de luz que tentaram ajudar o planeta nesta passagem de tempo, mas a escuridão foi tamanha que rastros de podridão demasiado grandes foram deixados para que as novas gerações os apagassem..

Olharão os mapas com aflição e espanto vendo tanta divisão política onde não deveria haver haja vista somente sermos uma raça, uma espécie, e terão muito a entender porque países tão ricos ao lado de países tão pobres.

Por quê? Perguntar-se-ão.

No entanto, esta geração chegada, será a redenção do planeta. Terão que tudo reconstruir, tudo reelaborar, mas terão chegado a um ponto da evolução humana onde terá sido abolido o pensar fragmentado, o pensar dissociado do todo. Terá sido abolida a servidão e a ignorância e o pensar será sistêmico. A raça humana será uma e todos pensarão em todos como única forma de ser feliz. A responsabilidade por uma sociedade livre e farta será de todos e cada qual fará aquilo que é necessário fazer para assim ser. E todos serão indivíduos, únicos e livres para serem o que são, cada qual com sua habilidade, com sua beleza, com sua elegância. No entanto, todos sabendo que somente a partilha possibilitará a todos o bem estar social.

Seremos então uma grande árvore de profundas raízes fincadas em solo fértil com seus milhões de galhos e flores e frutos a espraiar o fabuloso perfume da raça humana sobre a terra. E todas as outras espécies a viverem sob sua sombra.

Mas por que perdermos tanto tempo? Por que não agora?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tempos de mudanças este nosso tempo

Tempo de repensar as coisas da raça. Rever os pilares sob os quais erguemos, a duras penas, esta civilização. Em que nos baseamos? Qual o modelo que estabelecemos como o melhor e que nos serviu de linha mestra?
Penso no soerguimento de nossas cidades, nos ícones estabelecidos para a construção de impérios; olho as lutas travadas, guerras sem fim, mortes, destruição, atrocidades. Penso que estabelecemos como herói desta longa jornada o guerreiro, aquele que mata, que rouba, que toma aos outros o direito a liberdade e a própria vida.
Vejo na historia que louvamos Cezar, o general romano que invadiu tantos territórios em busca de fama, glória e poder e para isso assassinou milhares de seres humanos. Louvamos Alexandre e ainda hoje o chamamos de “O grande” porque fez o mesmo que Cezar. Estudamos Átila, o rei dos Hunos, que devastou toda a Ásia. Criamos até o mito de Aquiles, o grande matador e erguemos estátuas para homenagear Napoleão Bonaparte que quis ser senhor de toda a Europa e para isso sacrificou alguns milhões de almas. Erigimos memorial ao Duque de Caxias, dando inclusive seu nome a algumas cidades, que milhares de vidas ceifou em nome da ordem e da obediência ao rei; estudamos as duas guerras mundiais buscando culpabilizar apenas os derrotados como se os vencedores não tivessem nenhuma responsabilidade sobre os milhões de mortos, mutilados e a enorme destruição provocadas. Ainda aprendemos nas escolas que a competição é basilar do gênero humano e incentivamos o vencer o outro como nosso paradigma maior.
Tempos de mudança este nosso!
É preciso repensar com profundidade este paradigma para poder invertê-lo, rompê-lo, esquecê-lo.
Passou este tempo. Não há mais necessidade – se é que em algum tempo houve – de usar o recurso da violência para viver. Temos agora a ciência aplicada ao nosso lado, temos a tecnologia ao nosso dispor para nos prover do que necessitamos para viver e principalmente, temos o conhecimento para nos dizer que este não é mais um tempo de guerras ou de vaidades idiotas para ser amado. O temo agora é o da partilha, da troca, da generosidade, da amizade, da compaixão, da fartura para todos, do amor incondicional à própria raça.
Chegou a hora de dizer que acabou a era da violência, que passou o tempo da cobiça. Chegou o tempo de inverter o olhar, clarificá-lo, limpá-lo. Retirar da frente da visão a espessa camada de sujeira que impede de ver o mundo como uma rosa e curti-lo em beleza, poesia e criatividade.
É possível. Não é um sonho, não é utopia.
Como dizia Jonh Lennon em sua música Imagine: “I hope someday you join us, and the world will be as one”.